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WandaVision: A Mulher no Controle

Texto por: Gabriela Marold | Fotografia: Disney Pictures

Uma casa limpa num passe de mágicas. Cada cômodo organizado, seguindo a moda atual e tudo — absolutamente tudo — sob controle.

Desde os anos 60 a televisão retrata esse sonho feminino. Começou com a série Bewitched — A Feiticeira, onde a personagem principal, Samantha Stephens, acionava seus poderes torcendo o nariz e a mágica acontecia. Organização, desejos realizados, comando e muito poder.

Nesse seriado, James, esposo de Samantha, pede que ela ignore a magia para levar uma vida normal. Por amor ao marido, e na tentativa de agradá-lo, a Feiticeira busca abrir mão da sua natureza. E durante alguns bons anos, a narrativa da série assim seguiu com muitas aventuras, intervenções cheias de boas intenções e “manipulações do bem”.


Há pouco tempo a história de uma outra Feiticeira surgiu no universo das séries de TV. WandaVision, no canal Disney Plus, nos mostra a história de Wanda Maximoff, a detentora de um imenso poder. O desfecho, no entanto, mostrou que, quando uma mulher tenta controlar a realidade, mesmo repleta de justificativas plausíveis, o resultado nunca acontece conforme o esperado.


Um poder chamado controle

Vamos imaginar que, de repente, você se depara com o seu marido chegando em casa e junto com ele o chefe e a esposa. O seu marido até que tentou avisar que haveria visitas para o jantar, mas um mal entendido prejudicou a comunicação. Você, pega de surpresa e sem habilidades culinárias suficientes, se desespera; mas em nome do bom serviço ( e do emprego do marido) usa os seus poderes mágicos para fazer o jantar, organizar a mesa e deixar o ambiente o mais harmônico possível.

Foi isso o que Wanda fez logo nos primeiros capítulos da trama. Tudo em nome da paz familiar. Confesso que se fosse possível, se eu pudesse estalar os dedos, torcer o nariz, ou formar uma bola poderosa de fogo para manter tudo na minha casa sob a mais perfeita ordem, eu faria a mesma coisa!


Quem não gostaria de ter esse tipo de poder? Controle e edificação de algo são a mesma coisa?

Edificar significa construir com cautela e isso é bem diferente de orquestrar as coisas para que saiam tudo conforme o planejado. Então, não! Controlar e edificar são ações distintas. Nós, mulheres, fomos chamadas de edificadoras e muitas vezes, lutamos com a nossa tendência de — mesmo sem os poderes especiais da Wanda — manipular os cenários para que as coisas aconteçam de acordo com a nossa vontade.


Magia do Caos


Wanda descobriu, após ser conduzida pela vilã da história a momentos traumáticos da sua vida, que ela era a “Feiticeira Escarlate", cujo principal poder era o de controlar totalmente a “Magia do Caos”.

Sem me apegar a muitos detalhes nerds, mas de forma resumida, controlar essa Magia do Caos envolvia a possibilidade de fazer um jantar incrível, deixar a casa organizada, até o perigoso poder de manipular e alterar a realidade a seu bel-prazer.


E que mulher não gostaria também que as coisas acontecessem conforme a sua vontade? Você já ouviu a história de alguma mulher que tentou controlar as pessoas e situações ao seu redor? Que fez chantagem emocional com toda a família para conseguir o que queria ou que responsabilizou os outros pelas próprias emoções? Obviamente que esse tipo de comportamento não é algo exclusivamente feminino, mas convenhamos, mesmo que a intenção tivesse sido a melhor possível, você já conheceu alguma mulher que agiu assim? Ou então, você já agiu dessa maneira?


Não é minha intenção lançar peso ou condenação sobre ninguém, até porque, obter o controle é algo muito sedutor. Não se trata de uma luta do bem versus mal. Wanda não criou o HEX e toda realidade alternativa em Westview movida por vilania ou por caprichos egoístas. Ela criou a partir da dor da perda de quem amava.


Esperança na Construção

Após um tempo de aparente calmaria, veio o embate. Wanda percebeu que precisava dar adeus ao mundo criado, superar seus traumas e encarar o luto. Uma das cenas mais belas do seriado foi quando ela admitiu para todas as pessoas à sua volta que precisava abrir mão daquela realidade para que as coisas voltassem ao normal. Ela entendeu que a dor que estava sentindo existia porque, um dia, um amor foi vivido.


Essas foram as últimas palavras de Wanda a seu esposo, Visão — “Você é minha tristeza e minha esperança. Mas, principalmente, você é meu amor…” Com o controle deixado de lado, Wanda pôde enfim seguir adiante, construindo sua história vez após vez, sem aprisionar ou iludir ninguém.

Embora não sejamos dotadas de poder supremo, e não tenhamos a mesma força física de um homem, por exemplo, temos um diferencial, que é a nossa força intelectual, sensitiva e espiritual, dada por Deus, para o bem daqueles a quem tanto amamos. Esse “poder” é incrível e nos enche de esperança enquanto seguimos na nossa missão de edificar o lar. Mas ele também pode ser mal utilizado, e verter-se em manipulação dos nossos maridos e filhos, o que, muitas vezes, pode obstruir a autonomia e interromper o processo de amadurecimento deles.


O fundamento com o qual devemos edificar o nosso lar é a sabedoria (Provérbios 14). Sabedoria essa que deve ser base até mesmo para encararmos os momentos difíceis da vida e respeitarmos os nossos limites. Que os pilares da nossa casa sejam o respeito e a verdade. Que a nossa "magia" seja a de providenciar um ambiente repleto de aconchego e de confiança na soberania de Deus.


 

Gabriela Marold é jornalista, redatora e editora de conteúdo da CULTIVAR & GUARDAR. Casada com Juliano, é mãe da Sarah e do Daniel. Serve na Família dos que Creem em Curitiba - PR.




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