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O Cristianismo Não é Machista

Texto por: Isabella Oliveira


Fotografia: Lil Artsy


De todas as acusações contra o cristianismo, a que mais me entristece é acusá-lo de ser machista. Como poderia o Senhor Deus, que é Todo-Santo e perfeito Criador de todas as coisas, que louvou sua criação ao fazer a mulher, ser acusado de tamanho pecado?


Encontramos no dicionário a seguinte definição da palavra machismo:


1.comportamento que rejeita a igualdade de condições sociais e direitos entre homens e mulheres.

2. qualidade, ação ou modos de macho ('ser humano do sexo masculino', 'valentão'); macheza.


Infelizmente, devido a traumas, machucados causados pela própria igreja, interpretações equivocadas da Bíblia e ideologias, há ainda pessoas que acreditam que o cristianismo é machista e que as Escrituras atestam essa narrativa colocando a mulher em um lugar inferior ao do homem e que Deus simplesmente concorda e compactua desta ideia pecaminosa.


Começando pelo começo


Em Gênesis, na narrativa da Criação, vemos que após criar todas as coisas, o Senhor notou que não havia para o homem alguém que lhe fosse semelhante, alguém que lhe correspondesse, e viu que isto não era bom: "E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele" (Gn 2:18).


Algumas acusações de machismo começam exatamente neste trecho. Porque Deus criou o homem primeiro, e só então quis lhe fazer uma “auxiliadora”? Por que não criou a mulher primeiro e lhe fez um auxiliador? Poderíamos nos contentar simplesmente com a certeza de que tudo que Deus faz é bom. Deus fez assim porque simplesmente ele quis. Onde estávamos nós, quando o Senhor lançou os fundamentos da terra?


Não percebemos, mas ao nos inquietarmos com certas questões e não sossegarmos enquanto não obtivermos uma resposta satisfatória, nos assemelhamos a crianças mimadas e birrentas que precisam saber de tudo e não descansam enquanto não obtém a resposta desejada.

Deus não nos deve satisfação de nada. Confiar que, assim como ele diz em cada relato da Criação, que tudo o que fez é bom, deveria ser o suficiente para crermos e vivermos em paz em sermos exatamente o que somos e estarmos exatamente na posição em que ele nos colocou.


Mas afinal, o que significa ser uma auxiliadora? Será que realmente é motivo de indignação ter sido criada com esse atributo?


Auxiliadora idônea


A Bíblia de Estudo da Fé Reformada nos traz a seguinte resposta sobre a mulher ter sido criada para ser uma auxiliadora idônea:


O homem é formado primeiro, dando-lhe prioridade social, e a mulher lhe é dada depois, como auxiliadora (1Co 11.3-12; 1Tm 2.10). A palavra “auxiliadora” implica a inadequação do homem, e não a inferioridade da mulher, pois o termo é usado, com frequência, para se referir a Deus. A expressão idônea assume uma relação complementar, o que falta ao homem, a mulher supre, e vice-versa. Ambos partilham a imagem de Deus” (grifo meu).


Embora ao longo da Bíblia tenhamos muitos outros textos que pareçam endossar a ideia da inferioridade da mulher em relação ao homem, não pretendo trabalhá-los aqui, afinal, se não compreendermos a ordem e a beleza da Criação, certamente não compreenderemos os demais. É por esta ótica que devemos olhar cada texto que trate da mulher - a ótica de Deus em relação à sua graciosa criação, portadora da sua imagem de um jeito único, em nada inferior ao homem, mas sim, propositalmente diferente.


Quando nos propomos a compreender como o texto realmente deseja ser compreendido, e não como nosso coração deseja compreender, então finalmente podemos contemplar a bondade e o amor de Deus na criação da mulher, e é neste contexto que o machismo não ganha espaço.


Agora sabendo que o propósito de Deus na criação da mulher era simplesmente criar uma criatura plenamente capaz e em nada inferior ao homem, igualmente espiritual, inteligente, amada, útil e portadora da imago Dei, dotada de um atributo usado para se referir ao próprio Deus (auxiliadora), será que realmente devemos nos sentir inferiores?


Compreendo que certos textos bíblicos possam chocar, entristecer e até causar dúvidas do amor de Deus pelas mulheres, vez que há tantos relatos que mostram a dureza com que estas eram muitas vezes tratadas. Mas a Bíblia não foge da realidade de nossos sentimentos instáveis. Porém, ela também não nos deixa afundadas nesses sentimentos. Nossas emoções foram também planejadas por Deus para nos impelir em direção à sua verdade e à verdadeira fé.

A Palavra de Deus lança luz em nossas trevas e nos leva à verdade. E a verdade é que Deus ama as mulheres, assim como também ama os homens.

Se Deus ama as mulheres, por que o machismo existe na Bíblia?


É inegável que há sim uma certa opressão às mulheres causada por homens na Bíblia. Mas como disse, causada por homens, não da parte de Deus. E por que existe, se Deus ama as mulheres? Pela mesma razão de todas as outras mazelas que também se encontram nas páginas das Sagradas Escrituras: por causa do coração do homem endurecido pelo pecado.


Citando a autora Carolyn McCulley em seu livro “Feminilidade Radical”, “os homens pecam. Eles podem diminuir as realizações das mulheres e limitar a liberdade delas por razões egoístas. Alguns homens abusam sexualmente de mulheres. Alguns homens abusam de suas esposas e de seus filhos. Muitos homens degradam as mulheres através da pornografia.”


As Escrituras nos ensinam que o verdadeiro problema é a nossa natureza pecaminosa. Não o homem em si, mas o pecado do coração do homem.


Será que Deus não poderia intervir em nosso favor? Não poderia ter interferido na vida daquelas tantas mulheres que sofreram nas mãos do machismo nos tempos bíblicos? Não poderia intervir ainda hoje quando sofremos deste mal? Poderia, e assim o fez.


No tempo certo, na plenitude do tempo, nasceu de mulher Aquele que esmagou a cabeça da serpente. Jesus Cristo é a intervenção de Deus na vida de todos os homens e mulheres que sofrem as consequências do pecado. Nosso Cristo Salvador é o único caminho para uma vida de paz e alegria mesmo em meio ao caos da rebeldia humana.


A intervenção de Deus já veio uma vez, e virá novamente. Cristo redimiu homens e mulheres e quebrou a barreira de gênero que existia. Agora todos são um em Cristo, não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher (Gn 3).


Confiar nossa vida ao Salvador é receber pela fé a adoção à família de Deus. Sermos feitas filhas de Deus não nos salvará da maldade do homem, mas certamente nos dará algo muito superior: vida eterna ao lado do único Homem perfeito que já existiu.


No Senhor Jesus encontramos nosso verdadeiro lugar: nem subjugadas pelos homens, nem exaltadas pelo orgulho, mas sim, filhas de Deus pecadoras mas amadas, aceitas e redimidas pela graça de Cristo. Deste lado, infelizmente, não obteremos a segurança que desejamos. Mas no Senhor estamos perpetuamente seguras em sua obra.


Se o cristianismo é machista? Certamente que não. Toda vez que tivermos essa percepção, saberemos que o erro está em nós e em nossa falha interpretação. Poderia ser acusado de tamanho pecado contra as mulheres Aquele que as criou e contemplou como boa obra da criação? Poderia um Pai bondoso e amoroso ter como inferior aquela quem ele colocou seu Espírito e dotou com sua imagem? Poderia um Salvador bendito nascido de mulher, totalmente santo, cometer tal pecado? Poderia algo da criação de Deus ser ruim? Não há espaço para o pecado do machismo na ótica perfeita do Senhor.


 

 


Isabella Oliveira é dona de casa, estudante de pedagogia, escritora e professora da Bíblia no Frutíferas. É Casada com o Pastor Lucas de Souza, mãe do Timóteo. Faz parte da Igreja Assembleia de Deus de Fé Reformada em São Paulo, SP.

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