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Uma Masculinidade Livre de Estereótipos


Texto por: Jacira Monteiro | Fotografia: Cameron Casey


Há mais de 2000 anos ouvimos notícias de pessoas que se achavam superiores a Jesus Cristo, o Messias. Foi assim com os fariseus, saduceus, sacerdotes e mestres da Lei que tramaram testes contra o Senhor e levaram o povo a gritar “crucifica-o”, preferindo que Pilatos, um agente de Roma, soltasse o injusto Barrabás – preso por homicídio – do que o justo Jesus, em quem Pilatos não havia visto nenhum dolo.


Continuam alguns, entretanto, a partir de uma visão de mundo legalista, com uma tentativa de serem melhores do que Jesus Cristo, dessa vez, no quesito da masculinidade.


Na busca pela valentia varonil, em prol da defesa de entes queridos, alguns irmãos acabam por querer ser mais másculos que o Senhor Jesus. Falo da masculinidade legalista e maléfica que nada tem relação com os ensinos de Jesus.


Martin Luther King disse em sua autobiografia algo muito importante, a saber: “(...) Algumas coisas são certas, quer alguém veja vocês fazendo-as ou não. Tudo o que quero dizer é que nosso mundo foi construído sobre alicerces morais. Deus o fez assim! Deus fez o universo baseado numa lei moral...”. King estava certo, basta olhar a revelação geral para se perceber que há sim leis morais regendo o universo, desde a forma como o cosmos foi estabelecido à vida diária dos seres humanos que, violando a criação ,criam caos. Não é muito difícil de perceber que a nossa sociedade anda decadente.


Ouvindo o conselho da serpente, as bases morais estabelecidas pelo Criador estão sendo totalmente questionadas e retiradas em favor da libertinagem. A humanidade deseja, desde o Éden, ser como Deus, conhecedores do bem e do mal (Gn 3:4) e quer estabelecer para si mesma o que é certo e o que é errado. Dessa maneira, nossa sociedade pós-moderna sofre de dano moral.


De sexo desenfreado sem responsabilidade e relacionamentos sem compromisso a bebedices, busca desgovernada por poder e dinheiro e promoção de injustiças individuais e coletivas. Nosso pecado é louvado e o Criador escarnecido diariamente. Somos maus e estando à parte de Deus não há como termos atitudes boas.


À parte de Deus não há bem nenhum.

Os defensores do conservadorismo, por sua vez, ao verem o caos no mundo, buscam preservar algumas coisas antigas estabelecidas. Os ultraconservadores, no entanto, com um saudosismo dos tempos mais antigos acabam por exagerar nas defesas do que para eles são “valores”.


Aqui vamos conversar sobre o lado danoso da masculinidade que alguns conservadores e ultraconservadores têm saudades e querem que retomem ao mundo presente, e instrumentalizam a Bíblia para justificar a necessidade dessa masculinidade que nada tem a ver com os ensinos de Jesus.


Um deputado cristão, com bastante influência entre os cristãos e que foi eleito com grande número de votos, escreveu uma citação em suas redes sociais: “Se um homem não é capaz de violência, ele não é capaz de proteger os outros da violência. Não é por acaso que os homens mais reconhecidos nas Escrituras foram guerreiros. A Bíblia sempre louvou os homens beligerantes”. Não faço ideia de quem seja a frase, pois o deputado não referenciou a citação, mas é uma citação perigosa e antibíblica. Vou dar as razões.


Durante a final da Copa do Mundo no Qatar, a esposa do jogador argentino Lionel Messi, Antonella, juntamente com os seus três filhos, foram assisti-lo jogar. A Argentina venceu a competição e a imagem que mais rodou o mundo foi a do Messi, após a vitória, procurando a sua família. Após encontrá-la, Messi entrega a taça à esposa Antonella e registra o momento tirando uma foto no seu celular.


Messi e Antonella se conhecem desde os 9 anos de idade e o que se sabe até hoje é que ele é um homem fiel e compromissado com sua esposa e seus três filhos. Ele parece conduzir a família com sua notável amabilidade, o que é digno de louvor já que é um dos atletas mais importantes dessa geração, tendo muita notoriedade, influência e dinheiro.


Tarsio Onofrio escreveu algo digno de consideração: “Quero ver o impacto que Messi terá na formação do imaginário a respeito da masculinidade. E obviamente a relação disso com outros ícones como Neymar e Cristiano. Messi parece ser totalmente o oposto do machão e do pegador. A masculinidade do Messi parece o oposto de uma masculinidade tóxica ultraconservadora".


Essa masculinidade do Messi parece antagônica à masculinidade de homens inseguros que acham que seu valor está em ter mil mulheres tal qual Salomão. A masculinidade do Messi lembra um tal de Jesus, o Carpinteiro de Nazaré.


O Deus-Homem, que dignificou as mulheres e lhes deu valor tanto para estudar com Ele, como rabino, quanto para anunciar as boas novas de grande alegria aos povos que andavam em trevas. O Deus-Homem que, ao contrário do que o deputado citou, era e é manso e humilde e ensinou a mansidão e humildade aos seus.


Cristo odeia a violência e a beligerância, afinal de contas, Ele é o príncipe da paz. Ele reconheceu e trabalhou em prol de pessoas indefesas e excluídas, dos pecadores aos quais os mestres das leis, fariseus e saduceus desprezavam e consideravam indignos de atenção. A Bíblia sempre louvou os homens de paz.

O pastor Davi Lago na participação do programa “Conversa com o Bial” disse: “Jesus nunca mandou ‘pega seu fuzil e siga-me’, Ele mandou ‘pega sua cruz e siga-me’. Jesus nunca chamou cruzados. Ele chamou crucificados. Ele chamou pessoas para entregar a vida em amor ao próximo.


Jesus, o Deus-Homem perfeito, não convocou nenhum dos seus discípulos para uma guerra santa, para uma cruzada, mas para uma vida de sacrifícios, humildade e serviço ao próximo. Esse é o ensino bíblico.

É justo que se observe com preocupação a decaída dos valores morais e é justo que preguemos as verdades eternas para que as pessoas conheçam o legislador de todas as coisas e se voltem para Ele. Agora, precisa-se fazer isso com a razão e não com o forçar de coisas imputando à Bíblia e a Cristo coisas que Eles não disseram.


Quanto à masculinidade, de fato há crise, de anos. É preciso repensar uma masculinidade que não seja frouxa e que não sabe lidar com responsabilidades – homens que são eternos meninos e que vivem de objetificar mulheres, oprimindo os mais vulneráveis – mas também não seja legalista buscando uma virilidade tal como se vivêssemos nos tempos de guerra e os homens precisassem estar em campos de batalha urrando e gritando buscando derrotar um inimigo.


Levar a sério as Escrituras, enquanto lemos o nosso tempo, ajudará a termos homens mais semelhantes a Messi e Jesus e menos os valentões irresponsáveis produtores de masculinidade tóxica – e muitas vezes machista e inaplicável.


O meu apelo é que homens não queiram ser mais machos do que Jesus. Pelo contrário, busquem uma masculinidade equilibrada e sadia. Busquem ser homens como Jesus.

 

Jacira Monteiro é escritora, autora do livro "O Estigma da Cor" e mestranda em Educação, Arte e Histórica da Cultura. Jacira reside em São Paulo, SP.



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