Texto por: Bruno Maroni
Fotografia: Maria Orlova
Um mundo belo em estilhaços
A vida é bela, repleta de cores, sabores, aromas e texturas. Neste mundo admirável, existem abraços, bons livros, canções brilhantes e paisagens de tirar o fôlego. É um mundo vasto, do tipo em que feixes de luz esquentam suavemente o rosto nos dias frios. Do tipo que, a qualquer momento, você pode chorar de rir. Com cheiro de grama molhada e manjericão. É um mundo de cappuccinos e pizzas de marguerita. Preciso dizer mais? Mas é também um mundo pavoroso, desesperador.
Aqui as pessoas morrem de frio, sucumbem à fome, choram de dor, rejeitam abraços. Ao mesmo tempo que esta experiência confusa de alegria e lamento, encanto e pavor, desperta um senso de que o mundo não é como era para ser, este cenário é previsível.
O Drama das Escrituras deixa claro que, depois da queda — do lado de lá do Éden e à parte da comunhão com o Eterno — o coração e a criação sofrem. Assim, a narrativa bíblica oferece uma lente apurada para lermos o sofrimento de maneira realista, mas também conta uma história para o vivenciarmos de modo esperançoso.
A igreja sabe sofrer?
A igreja não pode ignorar a dor interna e externa. Não pode negligenciar as feridas da alma e da sociedade. Em muitos casos, a resolução da igreja diante da dor visceral é um frio “Deus sabe de todas as coisas”.
A Bíblia certamente nos auxilia ao lidar com o sofrimento, mas não é nem de longe como um livro de autoajuda. Porque, em sua maioria, esses livros afirmam que a resposta está em nós mesmos. Mas não está.
Não, a Bíblia não tem um apanhado de fórmulas pragmáticas para resolver o problema do sofrimento, para arrancar em um clique as angústias e aflições que nos assaltam — sejam os males sociais ou as fissuras emocionais que persistem. Contudo, ela nos expõe ao coração compassivo de Cristo, ao amor radical do Servo Sofredor, à gentil misericórdia do Pai, ao consolo do Espírito e à cura pela comunhão do Corpo.
Sofremos mais do que nunca?
Por que é importante refletirmos biblicamente a respeito do sofrimento? Porque nossas emoções são cada vez mais pressionadas por fatores externos e internos. Não é que hoje sofremos mais — apesar das estatísticas lamentáveis que denunciam a escuridão do nosso tempo, do colapso global na saúde mental, da crise de solidão em um mundo conectado. Além do apego à filosofias e alternativas frágeis de bem-estar, promessas pobres de alegria. Hoje somos hipersensíveis, mas, principalmente, carecemos de um roteiro completo para o sofrimento.
Em outras palavras, nossa visão de mundo não lida bem com a experiência de sofrer. Abordagens insensatas ao sofrimento conduzem à amargura fragilizada; posturas sábias levam ao crescimento integrado.
A Palavra de Deus nos mostra que, diante da dor e do sofrimento, temos dois caminhos claros: maturidade ou insensatez. Em outras palavras, sofrer pode nos tornar mais maduros ou nos estilhaçar por completo. Fazemos da dor e do sofrimento aliados, torcemos a aflição como desculpa para os nossos comportamentos e estilo de vida.
Momentos de sofrimento são decisivos para quem somos porque inevitavelmente nos edificam ou destroem. O sofrimento agudo não é indiferente: nos torna melhores ou piores.
O sofrimento vivido com sabedoria bíblica pode ser um bom instrumento para o desenvolvimento pessoal, um testemunho prático do amor de Deus e um meio para glorificá-lo.
Bruno Maroni é discípulo, pastor-teólogo, autor, redator, professor e ouvinte da cultura. Casado com Larissa, faz parte da ComViver Igreja Batista, em Jundiaí, SP.
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