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É Possível Organizar Nossas Emoções?

Texto por: Evelyn Lima | Fotografia: Karolina Grabowska e Ron Lach


Quando o assunto é "organização", geralmente associamos essa palavra a algo trabalhoso e cansativo, algo que tendemos a adiar o máximo possível. Seja arrumando gavetas de roupas ou estantes, organizando a mesa de trabalho ou lidando com e-mails acumulados, nos cansamos só de olhar.


No entanto, não podemos ignorar o fato de que quando nos organizamos, tudo funciona de maneira mais fluida, e sabemos exatamente onde cada objeto está. Mas e quanto às nossas emoções? Como podemos trazer essa mesma fluidez e ordem para a confusão emocional que muitas vezes vivemos?


Posso adiantar que é possível organizar nossas emoções, no entanto, não é tão simples como organizar o armário por cores. Nós somos seres complexos, e nossos sentimentos também o são. Mas a boa notícia é que eles nos foram dados por um Deus que tudo faz com um propósito (Ef 1.11; Pv 16.4). Para essa complexa organização, precisamos entender melhor nossas emoções e aprender a lidar com elas.


Ignorar o que sentimos é mais danoso do que ignorar a bagunça do armário.


De onde vêm as emoções?


Por muito tempo, ressenti-me por ser chorona – sim, eu mesma. Qualquer situação, grande ou pequena, vinha como um turbilhão, causando rubor em minhas bochechas e trazendo lágrimas aos olhos. Eu me sentia exposta, sabendo que outras pessoas podiam ver minha "fraqueza".


Acredito que não fui a única a olhar para as emoções de forma negativa e até repulsiva. Muitos de nós achamos que nossos sentimentos vieram após a Queda, como consequência do pecado. Mas e se eu te disser que Deus nos fez com emoções? E se eu te disser que nossas emoções, mesmo aquelas consideradas "negativas", como medo e tristeza, não são ruins em si mesmas?


Posso começar lembrando do versículo mais curto do Novo Testamento: "Jesus chorou" (Jo 11.34). Jesus amava Lázaro e suas irmãs, e como resposta a esse amor, Ele não se negou a sentir pesar pelo sofrimento delas e pela realidade da morte, mesmo sabendo da alegria iminente. No livro "Organize suas emoções", Alasdair e Winston destacam que nossas emoções são respostas naturais ao amor que sentimos, e assim como Jesus, o Deus Pai é exemplo disso.




"Deus amou tanto o mundo que se fez vulnerável a ele, a ponto de perder seu Filho amado, de enviá-lo entre nós para assumir nossas dores, chorar nossas lágrimas e, finalmente, morrer a morte que deveríamos ter morrido. Deus ama, por isso lamenta. Deus cuida de nós, por isso odeia o pecado que nos separa dele. Deus é perfeito, por isso sofre quando sua amada criação e seu precioso povo se ferem mutuamente e são feridos pelas feridas deste mundo dolorosamente quebrado"1


Fomos feitos à imagem e semelhança de um Deus que ama e, por isso, sente.

Isso indica que fomos criados para experimentar emoções, pois fomos projetados para amar. Temos o chamado de amar o que Deus ama e odiar o que Ele odeia. E nossas emoções apontam para aquilo que amamos e valorizamos em nossas vidas.



O que você está sentindo?


Nossos sentimentos nos foram dados com um bom propósito. No entanto, uma vez que ainda lidamos com a presença do pecado, muitas vezes reagimos de forma pecaminosa ao que estamos sentindo ou tentamos esconder e agir com indiferença em relação às nossas emoções. Diante desse cenário, podemos afirmar pelo menos duas coisas:


1. Precisamos identificar o que sentimos para que possamos buscar uma resolução para a confusão de nossas emoções.

Nem sempre sabemos exatamente o que sentimos, pois amamos muitas coisas e também sentimos muitas emoções diferentes, com intensidades diferentes, o que acaba nos deixando confusos. No entanto, um grande passo é identificar que estamos sentindo algo, que algo não vai bem e que precisamos de ajuda.

2. Se nossas emoções expressam o que valorizamos, podemos usá-las como um indicador para sabermos se estamos valorizando as coisas corretas e da forma correta.

Grande parte da confusão causada pelo que sentimos ocorre porque nosso coração facilmente se inclina a construir ídolos à nossa imagem. Fomos criados para a glória de Deus (Rm 11.36; 1Co 10.31), e quando fugimos desse propósito, tudo fica sem sentido, inclusive nossas emoções. O que temos amado de forma desordenada? Como reagimos ao perder o que amamos ou quando algo sai fora do planejado? "Nosso amor por Deus deve moldar nossos outros amores ou compromissos."2

Avalie e lide com suas emoções diante do Senhor

Após identificarmos e examinarmos o que estamos sentindo, precisamos avaliar as emoções e lidar com elas. Quais aspectos são bons? Quais apontam que algo está fora de ordem? Falei anteriormente sobre eu chorar por qualquer motivo. Imagine que alguém que amo apontou algum pecado, e eu começo a chorar e respondo rispidamente. Ao avaliar o motivo do choro, percebo que fiquei envergonhada ao me deparar com meu pecado. Sentir vergonha pelo pecado é algo bom e esperado. Todavia, avalio que também chorei por orgulho, pensei "quem é você para apontar o que fiz?" e, por isso, reagi pecando contra essa pessoa. Nesse caso, minha tristeza e choro também revelaram o pecado do orgulho, que, por sua vez, gerou outro pecado. Como lidar com isso? Após refletir que existiram aspectos positivos e negativos, preciso levar essa situação diante de Deus, me arrepender verdadeiramente e pedir perdão à pessoa que tratei mal.


Além disso, quero lembrar que o Senhor não está alheio ao que sentimos. Ele nos sonda, nos conhece (Sl 139.1) e entende nossas emoções, mesmo quando não conseguimos entendê-las.

Por isso, podemos buscar Seu auxílio ao lidar corretamente com os sentimentos. Esse é um exercício que dura toda a nossa peregrinação aqui, mas com o passar do tempo, conseguiremos minimizar a confusão e ver nossas emoções se ordenando, nos levando para mais perto daquele que as criou.

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REFERÊNCIAS:


[1] Groves, J. Alasdair; T. Smith, Winston. Organize suas emoções [livro eletrônico]. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2022, p.21.

[2] Ibid., p. 37.


 

Evelyn Lima é uma filha de Deus, formada em Química e criadora do Ministério Meninas sob Graça. Ela também fala e escreve sobre vida cristã em seu Instagram e Youtube. É casada com Samuel e faz parte da Igreja Presbiteriana do Brasil.

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