Texto por: Neto Silveira | Fotografia: Jaqueline Krehnke
"E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus...".
Era o início do verão de 95. Recordo-me do dia em que, no colo da minha mãe, olhei para as estrelas e pensei como tudo que foi criado por Deus era tão bonito. Momentos anteriores tínhamos terminado de decorar a árvore de natal. Consigo lembrar da textura dos enfeites de madeira que penduramos naquele fim de tarde; minha mãe com muita paciência respondeu todos os meus porquês sobre o Natal. Porém, uma coisa me intrigou: Porque haviam tantos enfeites de anjos? Eles eram azuis, com asas douradas e tinham uma expressão de grande alegria, fiquei muito curioso.
No começo de novembro nós montamos nossa árvore em casa, minha filha pulava de alegria enquanto decorávamos tudo. No meio de tantos enfeites, lá estavam aqueles anjos, agora bem velhinhos e alguns até sem asas. Olivia (minha filha) perguntou: "Papai, o que é isso nas costas desses bonequinhos?” Respondi que eram asas. Ela continuou: Igual de passarinho? Rindo, eu repliquei que sim, afinal eram anjos. Então, ela comentou que alguns estavam sem asas. Foi quando contei para ela que aqueles eram enfeites da minha infância. Naquela mesma noite, enquanto a colocava para dormir, surgiu outra pergunta: Papai, porque comemoramos o Natal?
Em algum momento, todos chegamos a dúvidas parecidas com esta. Nos últimos anos se popularizou termos como: Natividade, Advento, Parousia. E como diz um antigo provérbio Maori: Olhar para frente às vezes é olhar para trás1.
E talvez, assim como a Oli, você se encontrou refletindo: Advento? O que é isso? Em meados do quinto século os primeiros cristãos ainda estavam aprendendo a reconhecer o que era a vida cristã. Quem era Cristo, o que era a Escritura e outros porquês essenciais da Fé cristã. Com isso, muitas práticas surgiram. O que hoje chamamos de Advento foi uma dessas tradições. Eles separavam as quatro semanas que antecediam a celebração da Natividade para se dedicar a disciplinas espirituais, como a oração e o jejum.
Lembremos que eles estavam historicamente mais perto de Jesus do que nós, e isso os fez ansiar com tudo o que eram e tinham pelo segundo Advento. E o que seria esse segundo Advento? A palavra Advento vem do latim: Adventus que equivale a Parousia do grego, que significa: A chegada, ou, a vinda, a descida. Recém convertidos à Fé se preparavam para o Batismo, meditando sobre o que podemos chamar de tríplice advento: 1. A Natividade do Senhor Jesus (Advento); 2. A Sua graciosa vinda aos corações dos que crêem (Advento Evangélico); 3. A ardente expectativa da segunda Vinda de Cristo (Segundo Advento) O que denominaram Parousia se desdobrou em algumas tradições. Por exemplo, eram nessas semanas que se enfeitavam as árvores. Tempestades de neve eram comuns em certos lugares, por isso os pinheiros eram decorados para que as pessoas pudessem encontrar o caminho da casa de seus familiares, guiados pelas decorações.
Em outros lugares, a árvore servia de memorial de que Cristo era a videira. Olhar para ela era lembrar da Cruz, ou também, recordar da Sarça ardente: a vinda da Presença redentora de Deus sobre seu povo. As tradições traziam enfeites, velas e presentes para memorar Cristo. Velas transportavam a imaginação a Jesus como a Luz do mundo.
E a cada semana uma nova vela para prefigurar a expectativa da tríplice chegada que aumentava. Os presentes ofertados revelavam a graça divina e enfeites como as guirlandas, eram círculos que representavam a aliança eterna de Deus com o seu povo. Sendo verdes por causa da esperança que tinham na promessa de Deus. Tudo apontava para reflexões acerca do nosso Senhor. Mas infelizmente, como afirmou Calvino: Nossos corações são indústrias de manufaturar falsos deuses.
Trocamos a eterna beleza do Evangelho na face de Jesus pelos fascínios das coisas temporais. Surgindo assim, o apego pelas tradições como um fim em si mesmo.
Nos últimos dias, porém, Deus que é rico em misericórdia suscitou em nós um retorno à sua Palavra e às práticas históricas. Moldando o nosso imaginário ao verdadeiro Evangelho, isto é: tudo o que Jesus foi, é e será. Assim como tudo que Ele sendo o Filho de Deus fez, faz e fará. Nossas celebrações não precisam ser conformadas com este século.
Incluir práticas históricas e disciplinas espirituais na nossa rotina de fim de ano pode ser algo excelente para nossos corações e imaginários, mas jamais podemos esquecer que essas práticas não tem em si mesmas um poder redentor e santificador (1Co 1.30).
Mas porquê então tantos enfeites de anjos? Guirlandas e árvores? Porque comemoramos o Natal? O advento?
Voltemos a Escritura no Evangelho segundo Lucas:
Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu
rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.(Lc 2:8-15)
Celebrar o Advento é festejar o verdadeiro Evangelho.
É saber parar em dias tão cheios e, com a mesma humildade daqueles pastores, perceber a Glória do Senhor brilhando ao nosso redor. É sermos tomados de grande temor por causa da Boa-Nova de grande alegria: O Salvador, que é Cristo, o Senhor. Que tal ao invés de nos submetermos a uma agenda frenética de festas e distrações passageiras, decidirmos apagar todas as luzes de nossas casas, desligarmos o wi-fi e desconectarmos os smartphones. E assim, como aqueles anjos, aproveitarmos esse breve momento para declarar: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre as pessoas à quem Ele quer Bem.
Enfeites e comemorações podem ser faíscas da graça abundante de Deus, nos convidando a refletir o que é o Evangelho ou quem é essa Boa Notícia de grande alegria? Pare e contemple Jesus vindo ao mundo como um frágil bebê. Reflita sobre Ele chegando em seu coração (volte ao dia da sua
conversão). Lembre-se, que grande alegria será quando Jesus vier pela segunda vez. Talvez você seja tomado de grande temor!
Neste ano, será a sétima vez que eu e minha família embarcaremos nessa jornada de contemplar vinte e cinco eventos na narrativa bíblica que apontavam para o Filho e o seu Advento:
1. Ele é a Palavra pela qual o Pai criou todas as coisas;
2. Ele é árvore de vida;
3. É o Descendente que esmagaria a cabeça da serpente;
4. A Arca que salvou a família de Noé;
5. Nele seriam benditas todas as famílias da terra por Abrão;
6. Ele é a risada que sai da nossa boca como a promessa que foi feita a Sara e Abrão;
7. Ele seria sacrificado no monte como o cordeiro no lugar de Isaque;
8. É o Filho Amado como foi José que salvaria toda a família da morte;
9. Aquele que nos liberta do Egito;
10. Ele humilhou os falsos deuses do Egito;
11. Ele abriu o mar vermelho;
12. Ele é a aliança, Aquele que cumpre a Lei;
13. Aquele que nos faz entrar na terra prometida;
14. Salvador de Raabe;
15. O Juiz perfeito, superior aos juízes de Israel;
16. Nosso resgatador como Boaz;
17. O descendente de Obede, de Jessé e do rei Davi;
18. O verdadeiro Príncipe da Paz superior a Salomão, Ele é a verdadeira Sabedoria;
19. Ele é a Arca da aliança, o Tabernáculo, a Tenda, o Templo, essas coisas apontavam para Ele, 20. Assim como Jonas, Ele voltaria do mundo dos mortos;
21. O Servo Sofredor que Isaías contemplou;
22. Na Babilônia Ele estava na fornalha com os amigos de Daniel;
23. Ele é o reconstrutor dos muros (Neemias) e Ele traria a Lei ao seu lugar de primazia(Esdras);
24. A Boa Notícia dada a Maria pelo anjo Gabriel;
25. O Advento Emanuel (Deus conosco) a Boa Nova de grande Alegria, o Descendente de Adão e Eva que esmagaria a cabeça da serpente.
Nas últimas semanas do ano que antecedem o Natal vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer, como fizeram aqueles pastores de Belém, a multidão de anjos celestiais e os primeiros cristãos.
O sentido único e final do verdadeiro Advento: Jesus. Ele é a vinda da Glória de Deus enquanto esperamos.
1. Ko te titiro whakamua i etahi wa ka titiro whakamuri (Maori), Looking forward is sometimes looking backwards (English).
Neto Silveira é professor de Inglês para educação infantil e atualmente cursa Teologia no seminário presbiteriano do sul, extensão Curitiba. É casado com Ana K, pai da Olivia e faz parte da IPB Central de Curitiba, PR.
A CULTIVAR & GUARDAR preparou um presente para todos os leitores!
Baixe gratuitamente nosso E-book de Advento e desfrute de 25 reflexões inspiradoras cheias de encorajamento, consolo, paz e esperança. É tempo de celebração. É Natal! Cristo Nasceu!
Comments