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Pentecostes: A Era da Igreja

Texto por: Felipe Bartoszewski Fotografia: Ilya Shishikahim





Após o Natal e a Páscoa, o Pentecostes é a data mais importante do calendário e da tradição cristã. Enquanto o Natal celebra o advento de Jesus e a Páscoa o cumprimento de seu ministério terreno, por meio de sua morte e ressurreição, o Pentecostes celebra o início de uma nova era na história da humanidade, a saber, a era da Igreja.


Nessa breve reflexão, falaremos sobre a importância do derramamento do Espírito Santo para a definição da natureza da Igreja, bem como as implicações em sua vida e vocação.


Jesus morreu e ressuscitou na Páscoa, e passou 40 dias aparecendo frequentemente aos seus discípulos até o momento de sua Ascenção. A ordem dada era para que os discípulos esperassem em oração até que a promessa da vinda do Espírito Santo se cumprisse.


Dez dias após a subida de Jesus ao céu, o Espírito Santo foi derramado sobre aquele pequeno grupo de pessoas que estava reunido em oração no cenáculo.


Esse acontecimento é primordial no livro de Atos dos Apóstolos, pois a partir dele vemos o surgimento da Igreja, bem como sua expansão mediante a pregação do Evangelho.

Ao falarmos sobre o derramamento do Espírito Santo, não podemos pensar que se tratava apenas de uma força divina, liberada sobre aquela comunidade de cristãos que estava em Jerusalém para que eles operassem sinais e maravilhas.


Não pode também ser resumido a um conjunto de orientações, com objetivo missionário e revelação de caráter doutrinário, as quais foram ocorrendo por meio da atividade apostólica em parceria com o Espírito de Deus. As implicações desse evento vão muito além disso.


Ao descer sobre o povo de Deus, o Espírito Santo estava confirmando e selando a união da Igreja com Cristo.

Enquanto homem ressurreto, ao subir ao céu, Jesus levou a humanidade consigo por intermédio do Seu Corpo, e a descida do Espírito Santo fez com que Deus passasse a habitar entre os homens. Esse é um fator distintivo do cristianismo em relação às demais religiões, pois não temos um templo para peregrinar em busca de um contato mais íntimo com a divindade, antes, somos o próprio templo onde Deus vem e passa a habitar.


Não há como pensar numa união mais íntima com Deus uma vez que por meio do derramamento do Espírito, Ele está dentro de Seu povo.

A união com Cristo é viabilizada pelo Espírito Santo, pois uma vez que este habita em nós, estamos unidos a Ele em nosso íntimo. Isso significa que por meio do Espírito Santo, a Igreja é unida a Cristo e inserida na dinâmica relacional da Trindade.


A relação de amizade, amor e entrega mútua da qual a Sagrada Família participa, antes mesmo que qualquer coisa viesse a ser criada, agora é acessada pela Igreja, que participa dessa união por meio do Espírito Santo. De sorte que não em divindade e atributos incomunicáveis, mas em caráter relacional e atributos comunicáveis, a Igreja pode ser chamada de “a quarta Pessoa da Trindade”.


Tal fato amolda diretamente o caráter relacional da Igreja. Afinal de contas, por meio da união com Cristo por meio do Espírito Santo, somos o alvo do amor divino na mesma intensidade em que o Pai ama o Filho e o Filho ama o Pai.


Jesus nos ama assim como é amado pelo Pai (Jo 15:5). O amor de Cristo por nós é assegurado pela consistência do amor do Pai por Ele. O único modo da Igreja ser menos amada por Cristo é se Cristo for menos amado pelo Pai, e isso é impossível. Da mesma forma, Cristo nos exorta a amarmos uns aos outros na medida em que ele nos ama (Jo 15:9). Consegue perceber a extensão desse caráter relacional?


Ele nos ama assim como é amado pelo Pai, e nos chama a nos amarmos assim como somos amados por Ele. A solidez do amor de Cristo pelo Seu povo determina a consistência do amor que teremos uns pelos outros.

Nosso chamado é participar dessa dinâmica relacional, onde somos amados na intensidade do amor Trinitário, bem como amarmos uns aos outros no mesmo caráter desse amor. Imagine uma comunidade de discípulos onde as virtudes e amor fraterno presenciados na Trindade são materializados por eles enquanto assumem estar unidos com Deus por meio do Seu Espírito.


É isso que o derramamento do Espírito Santo proporcionou desde aquela festa do Pentecostes em Jerusalém. Pecadores redimidos como eu e você, dentre todas as gerações, povos, raças e línguas, são chamados a ser a extensão da Trindade na terra!


Cristo viabilizou isso por meio de Sua obra redentora, e o Espírito Santo passa a aplicar e imprimir os efeitos da redenção na Igreja e em cada cristão. De sorte que nos indivíduos, O Espírito está formando pessoas semelhantes a Jesus, e na Igreja, Ele está estabelecendo uma família de muitos irmãos a fim de que Cristo seja o primogênito entre eles.


A humanidade está representada no céu por meio de Cristo, que assumiu figura humana, e a Divindade é representada na terra por meio da Igreja, que carrega o Espírito de Deus. Por isso, podemos celebrar o fato de que Deus está entre nós, bem como viver em decorrência desse fato.


Tal como a relação entre as Pessoas da Trindade não visa os próprios interesses, mas sempre está voltada em agradar o outro, tal como uma Pessoa jamais pensa em si, mas vive em função do outro, a Igreja é chamada a manifestar essa relação eterna por meio de sua vida e vocação.


Por meio do Espírito de Deus, fazemos parte de um tipo de relação que não pertence a esse mundo, pois existe antes dele ser criado. Por isso, na medida em que assumimos as consequências de sermos a família de Deus na terra, apresentamos, materializamos, exemplificamos, não somente a obra expiatória de Cristo, mas o ambiente para onde Ele nos transportou mediante Seu amor e Graça.


O Pentecostes é o momento onde um novo tipo de pessoa é formado, onde um novo tipo de sociedade é estabelecido.

Enquanto Igreja, somos a comunidade que ainda que vive nesse mundo, está unida à Família que é desde sempre. Cristo é a imagem visível do Deus invisível, e por meio da união com Ele por meio do Espírito, somos a representação física e palpável dele na terra.


Todas as vezes que amamos uns aos outros em conformidade com a realidade da qual fazemos parte, Deus pode bradar por nosso intermédio e dizer ao mundo: “É assim que Eu amo meu Filho, é assim que Ele me ama”.


Portanto, com a encarnação de Jesus, Deus é revelado aos homens por meio do Filho, e com a descida do Espírito Santo, Pai, Filho e Espírito Santo passam a ser revelados por meio da Igreja.



 

Felipe Bartoszewski é empresário e fundador da Escriba Couro. Casado com Juliana, é pai da Helena, da Giovana, do João e do Tiago. Colaborou com a edição amostra da Revista CULTIVAR & GUARDAR. Serve na Família dos que Creem, em Curitiba, PR.

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