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O Serviço no Lar

Texto por: Helirin Gonçalves Foto: Sarah Chai



Enquanto de um lado há um discurso de empoderamento feminino nas diversas áreas da sociedade, doutro lado observo um crescente êxodo à domesticidade. Certa de que as mulheres já foram empoderadas por meio de Cristo, seja no escritório, seja no lar, ali exercerão sua vocação. 


A domesticidade é um lindo ofício, cujo serviço dentro do lar possui um valor inestimável. Dedicar-se aos afazeres domésticos, realizar um planejamento diário para a manutenção da casa, planejar as refeições para a família, zelar pela educação dos filhos.


O contentamento para a dona de casa, esposa, mãe não é receber um salário, mas sim, observar a satisfação da sua família e se alegrar com a reciprocidade deste afeto.

No entanto, observo uma dicotomia em muitos discursos em defesa da domesticidade. O serviço no lar não deveria ser uma oposição, um protesto contra a liberdade de escolha da mulher em se dedicar a sua profissão. Servir a nossa família é bíblico; o serviço não pode se tornar um ídolo, nem deve ser motivo de orgulho e superioridade em relação a outros, mas sim o cumprimento daquilo que lhe foi atribuído, naquele momento, para a glória de Deus.


É imprescindível que olhemos para Jesus e nos coloquemos em posição de discípulos, servos de Cristo. Pois não é o serviço no lar ou em qualquer outro lugar que fará alguém merecedor de glória e honra. Pois tudo o que fazemos, façamos como se fosse para Deus. Sabendo que tudo é por Ele, para Ele e por meio dEle.


Seja homem ou mulher, gentio ou judeu, - em Cristo -, o posicionamento deverá ser de humildade e amor com aquilo que nos é dado. Tanto ao homem quanto a mulher, trabalhando fora ou dentro de casa, negligenciar a família é considerado abdicar-se de uma missão e mandamentos estabelecidos por Deus aos seus filhos, a fim destes se sujeitarem às Suas ordenanças. 


Observamos diversas passagens bíblicas que direcionam os servos a conduzirem suas vidas familiares. Efésios 5:33 instrui aos casais o amor e respeito um para com o outro; Efésios 6:1-4, o mandamento de que os filhos devem honrar os pais e aos pais criarem seus filhos segundo a instrução e conselho do Senhor; Deuteronômio 6:6-7 aos pais serem perseverantes no ensino da verdade das Escrituras; 1 Timóteo 5:4-8 a sermos o sustento financeiro e emocional de familiares necessitados e as cartas de Tito e Timóteo, por exemplo, são instruções para que os cristãos vivam de forma distinta, para que a Palavra de Deus não seja envergonhada por culpa das más condutas. 


Em Tito 2:4-5, especificamente, há instrução para as jovens mulheres casadas "a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada".


Alguns comentários bíblicos nos instruem a interpretar de acordo com o original, remetendo a moderação ou discrição para temperança; castas sendo puras de coração e conduta de vida e, boas - a bondade nos remete à misericórdia e graça do Senhor Jesus - sermos bons é uma virtude de todo aquele nascido do Espírito Santo.


Albert Barnes em seu comentário bíblico, dispõe quanto a conduta de boas guardiãs do lar ou donas de casa: 


"A religião é o patrono das virtudes domésticas e considera os deveres apropriados em uma família como os mais intimamente relacionados ao seu próprio progresso no mundo. Olha benignamente para tudo o que faz do lar um lugar de contentamento, inteligência e paz. Não floresce quando os deveres domésticos são negligenciados; – e tudo o que pode ser feito no exterior, ou qualquer abnegação e zelo na causa da religião pode ser evidenciada lá, ou qualquer chamada que possa haver pelos trabalhos dos cristãos lá, ou por mais que seja realmente bom ser feito no exterior, a religião nada ganhou, no geral, se, para garantir essas coisas, os deveres de uma esposa e mãe em casa foram desconsiderados. Nosso primeiro dever é em casa, e todos os outros deveres serão bem executados apenas na proporção em que são".



Em outras palavras, no contexto cristão,  nenhum sucesso fora do lar compensa o fracasso no lar.

A passagem mencionada em Tito trata-se de instrução para as mulheres casadas, no entanto, Paulo em 1 Coríntios 7, dispõe que melhor que não se case, pois o solteiro se dedicará apenas para as coisas de Deus, enquanto os casados possuem outros deveres, os quais agregam as responsabilidades para com a família e casa.






Historicamente, as mulheres e crianças eram poupadas dos trabalhos mais pesados e de serem enviadas para a guerra. Hoje em dia ainda são poupadas, salvo exceções, e muitas escolhem em permanecer no lar, enquanto outras exercem sua vocação fora de casa, através dos dons e talentos a serviço da sociedade e para a glória de Deus.


Muitas ideologias usurpam o beneplácito do Evangelho quanto às mulheres, pois Cristo nos empodera, nos resgata do opróbrio. No entanto, o discurso anti-ideológico, diversas vezes, menospreza o serviço que ultrapassa as portas de casa.


"Mulheres. O novo movimento, centrado em Jesus, eleva a posição social de todas as mulheres. [...]

A barreira do gênero. O mundo de separação social entre homens e mulheres é destruído. [...]

Teologia. A natureza de Deus como Espírito é revelada à comunidade por meio dessa mulher.

A comunidade em torno de Jesus. Antigas barreiras raciais, teológicas e históricas são rompidas. A mensagem e a comunidade de Jesus são para todos."


(Kenneth E. Bailey - Jesus pela ótica do Oriente Médio - a mulher junto ao poço).



Qual o equilíbrio diante de tantas vozes?


Cristo Jesus. Ele é o equilíbrio, Ele é o padrão para todos os cristãos.


As virtudes de Deus refletem nas virtudes domésticas, bem como nas virtudes no mundo corporativo. As virtudes do cristão, seja homem ou mulher, são as de Cristo. Não reduziremos a obra completa da Cruz, para nos encaixar em um padrão ideológico, tampouco em um padrão anti-ideológico como forma de protesto, mas que alcancemos o padrão bíblico em tudo o que fizermos, sem negligenciar deveres, sendo perseverantes e prudentes quanto à conduta cristã, cumprindo o mandamento de amar a Deus e ao próximo, obedecendo os Seus preceitos em humildade, temor e submissão para que o Senhor seja glorificado em todas as coisas.


 

Helirin Gonçalves é advogada e revisora. Casada com Everton, é mãe da Alice. Serve na Família dos que Creem em Curitiba, PR.

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