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Trabalhar é Obedecer

Texto por: Isabella Oliveira | Fotografia: Polina Tankilevitch



Bem, é quase impossível falar sobre trabalho sem que antes falemos sobre a obediência. O que, afinal, é obediência? Obediência é fazer o que precisa ser feito - sem demora, sem hesitação, sem murmuração. É completar com zelo a tarefa que lhe foi entregue.


Há muitas coisas que fazemos em nome da obediência, mas que realizamos reclamando ou com o coração amargurado, e eu preciso dizer que fazer algo apenas para cumprir uma ordem não é obedecer. Murmurar diante de uma tarefa a ser feita, ainda que somente no coração, mas mesmo assim cumpri-la, não torna o trabalho aceitável diante de Deus, porque ele conhece o nosso coração e a nossa motivação. Deus sabe quando obedecemos e quando apenas damos um “check” numa lista de coisas a serem feitas. Deus sabe quando não trabalhamos de todo o coração. Deus sabe quando, como crianças mimadas, “fazemos bico” e batemos o pé e então realizamos o que nos foi ordenado. Deus sabe.


O CUSTO DA OBEDIÊNCIA


Ser obediente nem sempre é confortável, mas, o servo de Deus nesta vida não busca conforto. O servo de Deus busca ser fiel.

Vamos relembrar a vida de três jovens que escolheram uma vida de obediência ao invés de conforto:


“Falou Nabucodonosor e lhes disse: É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que levantei? Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém, se não a adorardes, sereis, no mesmo instante, lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?

Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.” (Daniel 3:14-18)


Ir para uma fornalha não era a escolha mais fácil, nem a mais confortável, mas era certamente a única escolha obediente. Esses três jovens, diferentemente da nossa geração, sabiam muito bem que a recompensa da obediência quase nunca é aqui e agora, mas eles estavam convencidos de que a recompensa da obediência no porvir vale até mesmo uma fornalha sete vezes mais aquecida.


Precisamos ser obedientes porque o Senhor Jesus foi obediente. A Cruz também não era atraente, mas a obediência não é negociável - nem diante de uma fornalha, nem diante de uma cruz, nem diante de um trabalho atrás da tela do computador ou de fraldas para trocar ou de refeições para cozinhar.


A DISCIPLINA DO TRABALHO


Durante uma tarefa laboriosa, você já ouviu ou até mesmo falou ou pensou algo do tipo: “eu poderia estar desfrutando de um belo descanso agora e não teria de enfrentar dia após dia essa tarefa se Adão e Eva não tivessem comido do fruto proíbido!”. Eu confesso que já pensei no trabalho - seja este qual for -, como parte da “maldição pós-queda”, e acredito que não estou sozinha neste tipo de pensamento.


“Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o CULTIVAR E GUARDAR.” (Gênesis 2:15)


O trabalho não é uma maldição-pós-queda. O trabalho é uma benção da Criação, é uma ordenança divina. O homem não foi criado para uma vida de ócio, mas para se satisfazer numa vida de trabalho recompensador em obediência à ordem de Deus. O que temos pós-queda são as dificuldades com o trabalho, que se tornou penoso e enfadonho quase sempre.



DEFININDO O TRABALHO


Tendemos a separar o trabalho em três grupos: o trabalho que realizamos de forma remunerada; o trabalho feito dentro de casa; o trabalho oferecido para a igreja. Desses três grupos, tendemos a ter somente um deles como realmente um trabalho sério - o trabalho remunerado.


Não costumamos pensar que arrumar as cadeiras da igreja ou aspirar nossa casa seja realmente um trabalho, porque não temos a recompensa imediata. Mas qualquer trabalho é igualmente trabalho. Não há divisão ou hierarquia - o que realmente difere é para quem oferecemos nosso trabalho. Isso quer dizer que não existe um trabalho que seja mais digno, ou mais santo, ou mais cristão.


O trabalho cristão é qualquer tipo de trabalho - seja ministrar ou prestar serviços à uma empresa - que o crente faz oferecendo a Deus. Por essa razão, certamente encontraremos pessoas limpando o banheiro que glorificam mais a Deus em seu trabalho porque o oferece a Deus, do que alguém cantando no conjunto da igreja, por exemplo.


Compreendendo que trabalhar é obedecer, ninguém está excluído de obedecer e servir a Deus com seu trabalho.

Há quem passe a vida buscando realização naquilo que faz, mas jamais encontrará, porque não encontramos realização no trabalho em si, mas na forma como o fazemos e para quem oferecemos. O trabalho não é aquilo que nos traz realização ou nossa capacidade de ganhar dinheiro. O trabalho inclui simplesmente tudo o que fazemos.




TRABALHANDO PARA GLÓRIA DE DEUS


A natureza do trabalho muda quando compreendemos que é o próprio Deus que nos chama a trabalhar. No Senhor, nosso trabalho não é vão.


O trabalho que mais nos enfada é certamente o que está relacionado com o servir ao próximo, principalmente em nossa casa. É um trabalho aparentemente ingrato e infinito. É um trabalho cansativo e que se repete a cada manhã. Não há, aparentemente, nenhum glamour ou realização em limpar a décima fralda suja do dia, ou servir mais uma refeição, ou limpar novamente o que já foi limpo no dia anterior.


Mas quando nos encontrarmos com o Senhor, finalmente perguntaremos: Senhor, quando foi que eu aspirei seu chão? Quando lavei a sua roupa? Quando te servi uma refeição e limpei seu banheiro? E o Senhor nos responderá: “quando você o fez por um dos menores de meus filhos, você o fez por mim.”


Nisto, filhos de Deus, encontramos realização. Não consideraremos nenhum trabalho como inferior se considerarmos que o Senhor do Céu, o Criador de todas as coisas, simplesmente pegou uma toalha e lavou os pés dos seus discípulos.

É aqui que nossa realização no trabalho está ancorada: seja qual for o tipo de trabalho, não o fazemos por nós, mas sim porque Deus nos ordenou. A realização vem da obediência, e não do ofício.


Precisamos todos os dias nos lembrar de olhar para o alto, ao invés de olhar ao redor, e oferecer todo o nosso trabalho ao Senhor - só assim será mais fácil e agradável. Este é o ofício que mais nos torna semelhantes a Cristo, que não teve uma vida ociosa, mas trabalhou a cada segundo para a glória de Deus.

Elisabeth Elliot diz em seu livro Uma Vida de Obediência que a fórmula para garantir prevenir o tédio deve conter: algo para fazer, alguém para amar e algo pelo que esperar. O pecado nos faz esquecer, mas nós temos tudo isso em Cristo: um trabalho a fazer, um mestre para amar e uma esperança.


O pecado tira a beleza das coisas e nos faz ver o mundo de forma monótona, cansativa e tediosa, ao invés de belo e cheio da glória de Deus.


Haverá dias em que trabalharemos sem entusiasmo, mas se o trabalho estiver encharcado de oração, a beleza estará lá também.

Deus fez o mundo de tal forma que o trabalho é necessário - e ele nos capacita a fazê-lo! É a alegria de um trabalho bem feito que nos faz desfrutar do descanso. É para quem o trabalho é oferecido que dá significado ao trabalho.


Não nos cansemos de ser obedientes e fiéis ao que o Senhor nos chamou. Caminharemos com alegria se nos mantivermos fiéis à tarefa. “Muito bem, servo bom e fiel!” é o que desejamos ouvir ao chegarmos à casa de nosso Bom Mestre após uma vida oferecida em trabalho para a glória de Deus - “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo” (Colossenses 3:23,24)


 

Isabella Oliveira é dona de casa, estudante de pedagogia, escritora e professora da Bíblia no Frutíferas. Casada com o Pastor Lucas de Souza, está à espera do Timóteo. Faz parte da Igreja Assembleia de Deus de Fé Reformada em São Paulo.



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