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Maranata: O Coração do Natal

Texto por: Ana Staut | Fotografia: Laura James



Há várias estradas que podemos tomar na vida. Estradas de sabedoria e humildade, estradas de ganância e maldade, estradas de sofrimento e piedade.


Ao longo da jornada da vida, não há como escapar dos caminhos que escolhemos, as estradas que percorremos e as portas que atravessamos. Na jornada da vida cristã, o bom caminho, misericordiosamente, tem uma estrela guia.


É o que aprendemos na história do milagre natalino, e na esperança que consola nossos corações. Nossa narrativa de redenção, revelada em todo texto bíblico, é traçada na difícil estrada que Maria e José escolhem, a estrada da confiança em Deus em meio ao caos. É a estrada que Jesus percorre, desde o ventre, e o caminho que nos chama, desde a criação.


Ainda assim, poucos são aqueles que escolhem a santidade, a Palavra, a justiça, o temor. Poucos são os que escolhem a peregrinação que nos é devida. Aos que decidiram pela imitação de Cristo e o acolher da mensagem da Cruz, o Natal é mais uma chance de reajustar e manter as lentes das Boas Novas.

A criança na manjedoura é, e foi, o início e o fim, a prova da nossa mortalidade e pecado, o extermínio da própria morte, mas também a promessa da redenção e a materialização da esperança. Jesus é aquele que cuida, mas que revela, no simples fato de existir e caminhar para o sacrifício agápico, a dificuldade que o nosso coração enfrenta diante do pecado.


Enquanto o Natal que celebramos é um lembrete real da esperança que nasceu da virgem, ele também é um lembrete do nosso propósito criacional e do nosso chamado, das nossas falhas e expiação.

Os delírios de um coração desalinhado das vontades divinas podem até tentar nos impedir de render graças ao nascimento do nosso Consolador e de afastar nossos olhos da redenção de Cristo, mas o poder do Senhor é a voz que nos chama a retornar à estrada da coragem e da fé. Ele nos comanda, nos avisa, nos ensina: “entre pela porta estreita”. Volte para mim.


Como a parábola do filho pródigo, no final da estrada podemos ver o Pai de braços abertos, pronto para nos oferecer o que não merecemos: vida transbordada em graça. Mas para sermos lavados e termos as vestes trocadas, precisamos regressar.

O ponto de partida é nascer de novo e levar ao coração a mensagem do milagre do nascer do nosso Salvador.

Mas como acolher as Boas Novas com alegria e satisfação em meio a tantas calamidades, inseguranças e dores? A verdade é que o sofrimento e os medos não anulam a bondade de Deus e o nosso propósito vocacional. É por isso que somos chamados pelo Senhor a permanecermos firmes na fé, corajosos, fortes.


A força e coragem, aqui, não se trata de renunciar à vulnerabilidade ou nunca sentir medo, mas entregar o que sentimos a Deus e, mesmo em meio ao caos dos sofrimentos, das injustiças e dificuldades, compreendermos o papel da soberania do Senhor nas nossas vidas e confiar na promessa de Cristo.


A promessa da shalom é o que nos aguarda, o retorno do Salvador. Se trata da paz da ressurreição, da Eternidade, da graça. A paz em nós mesmos. Paz para todos os cansados, os que sofrem, os doentes, os perseguidos. E essa paz começa no nascimento do Nazareno, e ao celebrarmos o Natal trazemos à memória aquilo que nos dá esperança.


Mesmo na espera do retorno de Cristo, podemos experimentar essa paz que transforma. Shalom é a paz com Deus, em que aceitamos nossa condição como filhos pródigos ajoelhados em arrependimento diante do Pai. O Evangelho exige essa mudança radical de mente e espírito, que resulta em uma profunda transformação de quem nós somos.


O arrependimento cristão é um pilar da confiança em Deus e do coração vigilante. Ele é uma condição para a vida cristã, assim como bons frutos são sinais de um coração disposto a carregar sua Cruz e servir a Cristo. Se nos arrependermos, se estivermos dispostos a morrer e sermos novas criaturas, teremos uma vida de Eternidade com Deus. Isso significa que somos perdoados e salvos pelo mérito do nosso arrependimento? Não! A justificação é pela fé́, mas a fé́ não consegue existir onde não há́ arrependimento.


O Natal é um chamado ao acordar para a realidade, e um chamado a entregar o coração ao Príncipe da Paz, pois mais cedo do que podemos prever, Ele retornará. As mensagens do advento nos mostram que ainda que a vida seja marcada pelas dificuldades, por lutas, dores e arrependimento, o Natal nos oferece esperança — uma esperança que não decepciona, e que surgirá glorificado entre as nuvens, vitorioso. Maranata!


Abra os olhos para o milagre do Natal. A porta que Deus se encontra está aberta. A estrela guia brilha, e nos aguarda.


 

Ana Staut é jornalista e artista plástica. Casada com Bruno, lançou recentemente o livro "Fortes e Fracos - vivendo em meio ao caos". Serve na Igreja Esperança em Belo Horizonte, MG.


 


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