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Produtividade x Propositividade


Texto por: Maeli Galdino | Fotografia: Camila Dantas



Para o senso comum, a produtividade é a capacidade de produzir. E produzir é gerar valor, baseado no que contabiliza o valor para si mesmo. Ou seja, para alguns, produzir é gerar dinheiro ou bens materiais. Para outros, produzir é gerar felicidade ou desenvolvimento pessoal. Para mais uns, produzir é acumular aventuras e relacionamentos. Independentemente de como, o produzir aqui está sempre ligado à capacidade de gerar resultados, e quem dita qual tipo de resultado deve ser buscado é o próprio indivíduo.


Por essa premissa, você só está sendo produtivo enquanto realiza atividades que diretamente geram e acumulam o combustível que enche o seu tanque do que tem verdadeiro valor para você. Mas, talvez, esse combustível não tenha nenhum valor para o Senhor.

Para a cosmovisão cristã, o produzir também é gerar. Mas o que realmente importa é gerar com base no que contabiliza o valor para Deus. O Senhor nos afirma que “seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31). E, aí está o combustível para o produzir do cristão, um combustível feito de elementos eternos, que enche o nosso tanque com o que tem verdadeiro valor para Ele, e é conquistado com a nossa fidelidade ao Pai.

Por esse novo fundamento, ouso dizer que, talvez, possamos afirmar que o termo “produtividade” já não se encaixa tão bem enquanto um conceito que orienta a atividade na vida cristã. A produtividade continua se referindo à capacidade de produzir. Sendo assim, quando falamos de produtividade, estamos dizendo “o que importa é o resultado, independentemente da motivação e do meio”.


Por outro lado, nós devemos, na verdade, viver pela capacidade de honrar e glorificar ao Senhor, não pelo mero resultado, mas focados na motivação e no meio. Se a palavra “produtividade”não está contemplando tão robustamente este novo padrão, apresento a vocês a propositividade, que também é chamada de produtividade cristã.


A propositividade é a aplicação do propósito maior na busca pelo resultado.

Aqui, o propósito vem antes e a sua aplicação gera resultados. O propósito? Viver para a honra e glória de Deus. Propósito inabalável e integral, que não depende dos nossos nervos, emoções e desejos para ser ditado. Depende, sim, da vontade boa, perfeita e agradável do Senhor.


O Pastor Tim Challies define que, a verdadeira perspectiva da produtividade se trata de “administrar seus dons, talentos, tempo, energia e entusiasmo com eficácia pelo bem das pessoas e para a glória de Deus”. Estudando e entendendo a fundo esse conceito, cheguei a uma síntese para que possamos decorar e repetir a nós mesmos sempre que precisarmos lembrar do fundamento para o nosso produzir: propositividade é administrar os seus recursos da melhor maneira possível para a honra e glória de Deus.



OS RECURSOS


Na Parábola dos Talentos, vemos três homens que, incumbidos por seu senhor de cuidar dos recursos financeiros dele, tomam diferentes atitudes. Os dois primeiros buscam multiplicar o que receberam, gerar ainda mais valor para aquele recurso. Já o último, decide seguir os temores e inseguranças de seu coração, e apenas guarda o recurso para devolvê-lo intacto ao seu senhor. Ele provavelmente acreditou estar fazendo um bom trabalho. Mas, quando o senhor retorna, ele responde à atitude com decepção e condenação (Mt 25:26-30).

Jesus está falando dos tesouros que juntamos no céu, da graça que nos é dada e que devemos administrar. Aquele que tem, recebe mais. Mas daquele que não tem, mais ainda será tirado. Deus nos deu a sua multiforme graça, e ela recai sobre toda a nossa existência. Ele quer que a usemos para produzir frutos, resultados, valor eterno. Como podemos fazer isso? Nos dedicando a realizar tudo o que nos prestamos a fazer, da melhor forma possível, para a honra e glória dele. Como servos bons, devemos receber o recurso do nosso Senhor, sabendo que Ele espera de nós resultados, mas não de qualquer tipo — do tipo que acumula para a eternidade. Esses, apenas conquistados pela nossa fidelidade em amá-lo e honrar o Seu nome no que quer que façamos.


Os recursos que Deus nos concede podem ser talentos, energia, entusiasmo, dinheiro, tempo, oportunidades, as pessoas que conhecemos, o local onde vivemos, nossas características de personalidade, interesses e assim por diante. Tais recursos e condições foram dados pelo Senhor a nós, não à toa, mas para serem usados devidamente.

O TEMPO


Dentre os recursos, há um que todo indivíduo possui, mas que nenhum indivíduo pode modificar: o tempo. Tenho certeza que, não poucas vezes, você se pegou falando “tenho que administrar o meu tempo melhor” ou “estou sem tempo”, dentre outras expressões que indicam o quanto o nosso tempo está fora de controle. Mas, a verdade é que, o tempo não está fora de controle. Ele é muito bem controlado, não por você, mas por Deus. Quando nascemos, nosso tempo já está definido. Alguns viverão 73 anos e outros não passarão dos 20. O tempo definitivamente não está nas nossas mãos.

No filme “O Preço do Amanhã”, experimentamos de uma lógica diferente: todas as pessoas possuíam um relógio que contabilizava o tempo restante de suas vidas, e a moeda daquela sociedade era o próprio tempo. Então, os ricos possuíam muito tempo. E os pobres, pouco tempo. Todos podiam ganhar ou perder seu tempo, como se ganha e perde dinheiro. Pensando nessa lógica, se soubéssemos o exato tempo que realmente temos, lidaríamos de forma diferente com as coisas, não? Imagine: seu tempo é de 65 anos, 211 dias, 2 horas e poucos segundos. Como você está agora e como gostaria de usar os seus recursos de acordo com o tempo que resta?


Essa condição nos ajudaria a colocar os pés no chão e traria um senso de realidade pouco agradável, alguma pressão, sensação de urgência, que nos faria planejar e agir, possivelmente de forma obcecada. Por motivos maravilhosos, que só Ele sabe, o Senhor não nos deu essa opção.


O tempo abaixo do sol é finito e imutável, mas o Senhor nos afirma que “tudo tem uma ocasião certa, e há um tempo certo para todo propósito debaixo do céu.” (Ec 3:1). Sabendo disso, o que está ao nosso alcance, enquanto gestores dos recursos que Deus nos deu, é administrar as atividades com esperança e sabedoria, sabendo que Ele separou um tempo para tudo.





FAÇA PLANOS

Não podemos esperar ter produtividade, sem planejar. E estou falando da nova produtividade, a que honra e glorifica a Deus, a propositividade. “Então, quer dizer que não posso esperar honrar e glorificar a Deus sem planejar?” Isso mesmo. Você pode até acertar numa ou outra tentativa, mas o planejamento potencializa tudo o que você tem de produzir.


Quando agimos sem planejamento, estamos dizendo a nós mesmos: eu sou totalmente capaz de seguir sozinho conforme meus instintos, meu coração.


Quando você não planeja, você até acha que está indo pela sua mente, mas a verdade é que está seguindo meramente pela sua emoção, cedendo à pressão, as intempéries, e ignorando as verdadeiras prioridades.

Como bem sabemos, enganoso é o coração do homem (Jr 17:9), então, não aposte na inconstância do seu. O planejamento é fundamental para a tomada de decisão. E, como se não bastasse a vulnerabilidade aos nossos desejos desordenados, inclusive se você estiver indo pela sua mente, ainda poderá falhar, pois nossa inteligência e memória são finitas. A ajuda é bem-vinda, em razão da nossa humanidade. E, a própria Palavra nos ensina sobre isso.

Em Lucas 14:28-32, Jesus fala sobre alguns requisitos para segui-lo, dando uma indicação clara de que devemos nos programar, avaliar os riscos, ouvir o Senhor, e, quando tomarmos a decisão bem pensada, poderemos seguir com coragem. E, entendendo que, cada passo nosso, seja no trabalho, nos relacionamentos, nos cuidados com a saúde, é uma possibilidade de seguir a Jesus ou não, devemos aplicar esse princípio para tudo. Sem esse tipo de análise, nunca poderemos ter segurança para afirmar se estamos agindo conforme a propositividade. Podemos estar apenas pisando em falso, guiados pela desorientação do nosso coração, e desperdiçando os recursos.

Em Provérbios 16:3, fica claro que, se agirmos conforme os desígnios, ensinamentos e conselhos de Deus, sendo esse o verdadeiro significado de entregar as obras ao Senhor, nossos planos serão bem sucedidos. Ou seja, planeje e aja buscando honrar e glorificar a Deus, administrando os seus recursos da melhor maneira possível, e os seus planos gerarão resultados eternos. Esse é o sucesso para Deus. Essa é a propositividade.





Então, segundo a Palavra, devemos planejar, para exercer o maior potencial da nossa produtividade; o planejamento deve estar consagrado ao Senhor, para que seja bem sucedido; e, completando o entendimento, segundo Provérbios 19:21, pela graça dele, nossos planos podem ser traçados, e a despeito disso, a vontade dele sempre prevalecerá. Buscamos administrar da melhor forma, com planejamento e atitudes, mas a esperança não está nas nossas boas obras, ela permanece no Senhor. Jamais seríamos capazes de carregar esse fardo em nossos ombros. Só Ele, que é Deus, tem plena capacidade de realizar os planos da melhor forma (Sl 127:1). Entregando a Ele nossas vidas, traçando planos embasados na vontade dele, seguindo o propósito de honrá-lo e glorificá-lo, mesmo que falhemos nas nossas obras, os resultados certamente serão os melhores.

NÃO FAÇA PLANOS


Não faça planos, se quiser se sentir consumido pelo tempo.


Não faça planos, se quiser estar sempre atrasado, endividado com seus compromissos e sem conseguir se desligar das responsabilidades.


Não faça planos, se preferir ser dominado pelos desejos desordenados do seu coração nas suas tomadas de decisão...


Quando acreditamos na capacidade da nossa mente de decorar e ordenar absolutamente todas as nossas atividades, estamos sendo, nada mais nada menos, que tolos. Nossa mente não tem essa capacidade. Descarregue no papel e veja sua mente funcionar muito melhor. Ela tem um limite de processamento e, normalmente, operamos com a capacidade máxima. Não gaste seus recursos dessa forma. Seria muito mais proveitoso, nesse caso, descansar. Mas, quando não nos planejamos, até mesmo o descanso se torna cansativo. Nossa mente, cheia de atividades, compromissos e responsabilidades, não se esvazia. Pelo contrário, ela ativa o alerta como se todas as demandas fossem urgentes, porque, na verdade, não sabemos para quando elas são e, por isso, nosso descanso é em vão.


O planejamento nos ajuda a priorizar devidamente o que o Senhor quer que priorizemos: dizer sim para as coisas certas, e não para outras coisas certas, mas que não são prioritárias.

Em “Super Ocupado”, o Pastor Kevin DeYoung nos lembra de como foi a vida de Jesus. Nosso Senhor veio ao mundo como homem e um homem bastante ocupado. Mas Ele sabia exatamente o que fazer e o que deixar de fazer. Ele era produtivo. Adiantaria se Jesus decidisse apenas curar enfermos ou fazer milagres de multiplicação? Ele administrava seus recursos, considerando o tempo que tinha, para servir ao próximo, ensinar o Evangelho, ter comunhão com os irmãos, descansar, e, em primeiro lugar, buscar ao Senhor. E foi o que fez, de forma ordenada. Houve momentos em que queriam mudar seus planos, mas Ele se posicionava negando, por mais válida que fosse a proposta.

Dito isso, adicionando à lista inicial de motivos para não fazer planos: não faça planos, se for se escravizar ao seu planejamento. Assim como houve momentos em que Jesus disse não a mudanças de planos, houve momentos nos quais Ele disse sim. E isso se dá porque, diferente do que nossa carne tende a pensar, não devemos nos submeter ao planejamento. Somos senhores do nosso planejamento, e o nosso Senhor é Deus.


Não deixe que os seus planos sejam chefes, ditadores, opressores, te frustrando à medida que não os segue. Como um bom senhor do seu planejamento, use-o como ferramenta, auxílio, instrumento. Como Jesus fez. Ele tinha clareza e consciência suficiente dos seus planos e dos planos do Pai, para dizer sim ou não às diferentes oportunidades.


Planejando e administrando nossas atividades, considerando o tempo e os recursos, compassamos a vida e a colocamos sob um ritmo redimido. Ao sabermos que temos limitações físicas, emocionais e mentais, e que não podemos depender apenas das nossas próprias obras, mas que devemos contar com a obra de Cristo, nos entregamos para o Pai, e a graça do Senhor recairá sobre a nossa produtividade. Planeje-se para viver de acordo com essa graça. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não vos sujeiteis novamente a um jugo de escravidão.” (Gl 5:5).


Não se sujeite a ser escravo da busca por resultados materiais, do tempo imutável, dos compromissos desenfreados, da preguiça ou até mesmo do planejamento. Somos livres para buscar uma vida abundante de equilíbrio e resultados eternos. E o segredo para esse caminho está na mão: pôr o propósito em primeiro lugar e viver em busca de honrar ao Senhor e glorificá-lo, gerando assim, os resultados mais preciosos.



 

Maeli Galdino é empresária, designer, fundadora e diretora de criação na primeira papelaria cristã do Brasil, a Purpose Paper. Casada com Danilo, faz parte da Igreja Presbiteriana de Pinheiros em São Paulo, SP. *Este artigo foi publicado no Volume 03 da Revista CULTIVAR & GUARDAR.





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