Texto por: Bruno Maroni | Fotografia: Jonathan Borba
Todo ano é a mesma história. Na reunião de presbitério da igreja, logo no início do ano, definimos um planejamento para a comunidade. Incluindo as séries de mensagens dos meses seguintes. Até aqui não houve uma ocasião em que, para os primeiros meses, para inaugurar o plano de séries, não tenhamos escolhido o tema “disciplinas espirituais”. Assunto que, com intuito de inspirar e motivar a família de fé a uma vida de relacionamento com Deus e com a congregação, sempre insistimos.
Oração, solitude, comunhão, serviço, sacramentos, jejum, estudo bíblico. O repertório de disciplinas se ampliou e se diversificou ao longo da história da igreja, mas serve sempre como orientação básica para a vida devocional sadia.
Disciplina, afinal, envolve consciência, compromisso e perseverança. Deixar de viver a espiritualidade no automático, buscar intencionalidade. Pensando assim, é claro que se trata um assunto essencial — indiscutível — para a igreja. Bem, assunto que nos espera todo início de ano. Mas e se houvesse um incentivo semelhante a esse à nossa relação com a arte e a cultura? Digo mais: e se a vida com a arte fizesse parte das disciplinas espirituais cristã?
Apreciar, contemplar ou criar arte não pode nos aproximar mais de Deus e nos tornar mais semelhantes a Jesus?
Assim como as disciplinas espirituais nos aproximam do Eterno e despertam intimidade e maturidade, a arte também demanda disciplina. Pintores precisam de disciplina para aprimorar suas técnicas, fotógrafos precisam de disciplina para encontrar os melhores ângulos. Músicos precisam ser disciplinados para aprimorar acordes e melodias, poetas precisam ser disciplinados para melhorar versos e rimas.
Disciplina é o comprometimento que desperta liberdade.
E todos nós — artistas profissionais ou amadores, ou minimamente interessados por arte — também precisamos de disciplina para cultivar e guardar a arte. Para assistir a um filme com atenção, ler um romance com paciência, ouvir um álbum com deleite.
A beleza está ao redor no mundo de Deus, e nos chama para uma conversa, um encontro. Basta preparar o corpo e o coração, os olhos e a imaginação para responder.
Por muito tempo — e até hoje — a igreja suspeita da arte. Na realidade, uma sociedade apegada ao progresso e ao consumo, tende a ignorar a arte. Por que dar valor à beleza se o que precisamos é de produtividade?
Esse vício pode ter engolido a igreja, tão ocupada com resultados religiosos que perdeu de vista a vida comum e a arte. Fora as suspeitas típicas de a arte supostamente desvia o nosso foco do que é mais importante.
Contudo, se o evangelho é sobre Deus renovando todas as coisas em Cristo, pelo poder do Espírito (Cl 1, 2Co 5.17), então tudo importa: da alma à arte.
Para os discípulos e discípulas de Jesus, faz sentido que a arte seja disciplina, porque adoramos e seguimos o Deus do Tabernáculo e do Templo, dos salmos, harpas e tamborins. Adoramos o Senhor da criação, seu maior santuário.
Um Deus eternamente belo, integralmente artístico, infinitamente criativo.
Para refletir e contemplar:
Você acha que existe uma relação entre a arte e as disciplinas espirituais?
Como a arte pode te ajudar na jornada espiritual rumo à semelhança com Cristo?
Bruno Maroni é pastor, teólogo, professor, revisor de texto e co-criador do perfil Ouvido Pensante, sobre música e espiritualidade. Casado com Larissa, faz parte da ComViver Igreja Batista, em Jundiaí, SP.
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