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Hora de Preparar a Mesa

Texto por: Brenda Dauta | Fotografia: Mercy


"... o Senhor dos Exércitos oferecerá um grande banquete para todos os povos do mundo. Será um banquete delicioso..." Salmo 25:6


Estamos diante da época do ano em que uma mesa significa boa parte das nossas expectativas. Uma data comemorativa à qual juntamos familiares, amigos e todos que estimamos para saborear um cardápio especial. Falo daquela comida que só é feita em datas comemorativas, em dias especiais. O dia em que finalmente ficaremos estupefatos da comida feita pelas mãos de quem amamos. Tradições como esta podem ser perpetuadas por anos, cruzar infâncias, casamentos, novos nascimentos... uma família pode ter como ápice da razão principal da reunião de Natal aquele menu que reúne gerações.


Não sei se você faz parte do grupo que espera o dia e a comida, ou daquele que ajuda a preparar como pode. Qual seja o seu grupo, não é difícil de imaginar o tamanho do esforço e trabalho empregado para preparar a mesa para a noite de Natal. Boatos que em outros países esta nem seria a melhor parte do dia, que não fazem uma grande ceia na noite do dia 24, mas sim um almoço no dia 25. Claramente, nós brasileiros descobrimos como aproveitar melhor esta reunião especial: fazemos o jantar da véspera em um tamanho que dure até o almoço do Natal. Você tem uma memória assim? Caso não tenha, que Deus te proporcione a oportunidade de construir uma tradição de Natal em sua casa.


Para realizar algo nesta proporção, para desfrutamos do momento à mesa no Natal com aqueles que amamos, tudo é pensado um pouco antes. A comida do dia a dia dá espaço para pratos que levam horas no forno, muito tempo na geladeira ou até um tempo especial pensando e aprimorando as receitas. Sem falar da possibilidade de uma louça, que está guardada e só sai do armário nestas comemorações específicas. A decoração não fica para trás e em alguns lares, meses antes, tudo já foi pensado para que na grande noite, todo o lar tenha um clima especial de Natal. Nesta parte também podemos estar diante de belas tradições familiares. Parte cuida da comida enquanto outra pensa em como o lar pode ficar bonito, temático e aconchegante.


Que momento especial temos para criar novas memórias com aqueles que desejamos que partilhem desse momento conosco.

Então concordamos que há um grande esforço antes de ficarmos com nossas roupas apertadas pelo quanto comemos de lombo, batatas, rabanada e peru. Até este momento de alegria e satisfação, alguém teve que preparar a mesa. Se você nunca teve um momento assim, peço pela chance de que você seja a pessoa que convida à mesa com muita hospitalidade.


A Palavra de Deus não se esquiva de falar sobre momentos ao redor da mesa e o que isso pode significar dentro do Cristianismo. Passagens que descrevem os ensinamentos de Jesus aos seus discípulos, até mesmo ao significado de ter sentado com pecadores indignos da sua presença. Pode ser que não seja muito claro em nossas mentes como “sentar-se para uma refeição” pode trazer em si um ato tão significativo. O que precisamente muda o cenário de uma necessidade primária e eleva a um momento que nos traz.


Ouvi um grande pastor-teólogo explicar sobre uma passagem muito especial e provavelmente uma das mais emblemáticas sobre a mesa. A parábola do grande banquete traz em seu contexto e nas palavras de Jesus, um ensino que é um divisor de águas para o tipo de vida e nível de comprometimento que temos apresentado ao Senhor. Contudo, algo que ficou cravado em minha mente foi a sua afirmação sobre uma afirmação de um dos fariseus que se sentava à mesa com Jesus:


"Ao ouvir isso, um homem que estava à mesa com Jesus exclamou: “Feliz será aquele que participar do banquete no reino de Deus!" Lucas 14:15.2


Nós não podemos saber se quando este homem faz tal afirmação qual a intenção e se havia sinceridade. Não tínhamos como saber se ele tinha o desejo sincero de estar no grande banquete que será oferecido por ocasião da segunda vinda do Senhor, ou se eram os comentários de um mestre fariseu com um coração tomado por justiça própria. Contudo, sejamos bondosos ao ouvir a afirmação do homem que estava à mesa, pois certamente imaginamos como será alegre a chegada do momento em que sentaremos à mesa com Jesus.


É a companhia à mesa que faz com que o mestre fariseu faça uma das mais belas colocações que poderemos fazer ao receber uma companhia à mesa e qual companhia seria tão importante quanto a de Jesus Cristo?


Se dedicamos o nosso melhor ao receber quem amamos para uma refeição, o que faríamos ao saber que nos faria companhia o Autor e Consumador na nossa fé?

Aqui, não estamos diante de um convite para a preparação do local onde sentaremos com pessoas que estimamos somente, mas com aquele que dizemos ser o Nosso Salvador, ao único digno de toda Glória que esta vida pode render. Jesus não foi somente o convidado da festa, ele é a razão de sentarmos à mesa. Foi esta companhia que transformou um simples momento de necessidade em um ato de louvor e adoração.


Atualmente, Jesus não nos pede conta dos nossos talentos de mesa-posta ou dotes culinários. Não fazemos oferendas de alimentos como desde os antigos povos pagãos. O significado antropológico de estar numa mesa com um convidado querido é muito presente no judaísmo, a mesa é quase sempre um local de aprendizado ou uma finalidade para um deleite final.


Conforme a leitura de Levíticos 11 e Deuteronômio 14, podemos afirmar que escolhas alimentares fizeram parte da marca distintiva e identidade do povo de Deus. A orientação dada ao Senhor foi de que não comessem um fruto proibido. Um dos objetivos da marcha de Moisés com o povo foi de que pudessem “comer e regozijar-se” diante de Deus (Dt. 27-7). Até que paradigma da “mesa e refeição” se tornou, na literatura neotestamentária, uma referência messiânica, como lemos:


"Em Jerusalém, o Senhor dos Exércitos oferecerá um grande banquete para todos os povos do mundo. Será um banquete delicioso, com vinho puro e envelhecido e carne da melhor qualidade. Ali removerá a nuvem de tristeza, a sombra escura que cobre toda a terra. Ele engolirá a morte para sempre; o Senhor Soberano enxugará todas as lágrimas! Removerá para sempre todo insulto, contra sua terra e seu povo. O Senhor falou!" Salmo 25:6-8.


Perceba como sentar-se à mesa não é um simples momento de alimentação, mas sim um deleite no Senhor Soberano e o momento de encontro entre Deus o seu povo. O texto é enfático ao dizer que “o Senhor dos Exércitos oferecerá” e aqui o cenário da mesa torna-se único para o povo de Deus, mais uma vez. Deus seria a nossa total satisfação por sua companhia e presença, mas insiste em preparar-nos um banquete, com insumos da melhor qualidade. Neste banquete, teremos a satisfação de estar com Cristo, recebermos da sua bondade e participarmos da sua glória.


De fato, na fé cristã “estar à mesa” parece significar mais do que um momento de conveniência. Lucas descreve três momentos em que a mesa proporciona mais do que a companhia e a satisfação, quando Jesus se mostra sendo um hóspede peculiar ao estabelecer aquele como um lugar de confronto e resolução de conflitos com escribas e fariseus que o indagavam. Parte desses, o questionavam por um motivo singular também: Cristo, sentado à mesa com pecadores. A mesa ainda pode ser um local de situações dolorosas, mesmo que em situação de estarmos com a intenção correta ao preparar a refeição. Mateus 26 relata como os Doze preparam a mesa da Páscoa conforme Jesus havia instruído. Imagine como deve ser confrontante preparar a mesa para o Senhor e não receber palavras de congratulações pelos feitios, mas sim:


Ao anoitecer, Jesus estava na mesa com os Doze. Enquanto comiam, disse: "Eu lhes digo a verdade, um de vocês irá me trair". Mateus 26:24-21


A Bíblia é enfática ao mencionar como ficaram aflitos. Antes de ficarmos preocupados se Jesus nos dirá palavras de confronto à mesa, gostaria de atentar para que vejamos que o Filho de Deus sentou à mesa até mesmo com traidores. Jesus tinha ciência de quem compartilhava da sua tigela com mau sentimento, tomado por ambição e traição. Contudo, Jesus não impede que o traidor se sente com ele e participe da festividade. Que possamos ter o domínio próprio de em situações específicas dividir a mesa até com aqueles que já nos fizeram mal diretamente.


A finalidade desta junção de informações não é a de que você repense pratos para o menu de final de ano, ou para que você cozinhe melhor. É uma amostra de que a razão de prepararmos a mesa é a espera do banquete escatológico que nos foi prometido pelo próprio Cristo. Que a comida que de fato nos trará saciedade é a que vem da mão do próprio Cordeiro.


Se Jesus não for a razão dos bons sentimentos nutridos nesses dias, então será apenas mais um momento de observação às necessidades orgânicas ou mais uma repetição das práticas familiares.

Isto, não se trata de um brado para que você proteste na reunião familiar. Diante do que percebemos, podemos ter em mente o que verdadeiramente nos leva a resgatar todas essas tradições de Natal com quem amamos.


Compreendemos que quando temos em nossa mente qual a motivação de sentarmos à mesa, já não sentaremos de qualquer forma. Poderemos participar daquele momento tendo em mente que o nascimento de Jesus faz com que parte do mundo se sente e coma, enquanto lembramos que o momento de participar de uma refeição na mesa do Nosso Salvador será a razão pela qual povos de todas as etnias estarão alegres na presença daquele que comemoramos o seu nascimento. Agora, fazemos um baquete para celebrar o nascimento daquele que nos levou à mesa da Salvação e nos servirá, permitindo que participemos da sua glória.


Espero que possamos lembrar, no momento de alegria da ceia com todos aqueles que amamos, o que significa a mesa do Senhor. Que todos que estejam neste momento conosco durante este ano e os que virão, possam ter um encontro genuíno com o Senhor que é o Pão que desceu do céu. O nascimento de Jesus é a razão de prepararmos à mesa com quem amamos e um dia, teremos a mesa preparada por Jesus para todo o seu povo. Este tipo de entendimento pode reconduzir sua noite de véspera de Natal.


A glória de Cristo é realidade, e o nosso comer, beber e falar podem testemunhar. Não somente durante os banquetes de Natal ou para as conversas com quem amamos durante o dia do Natal, mas por todos os outros dias. Que tenhamos claro em nosso entendimento que o que há de valoroso em nossos banquetes não é somente o que já está sobre ele, mas aquilo que vem das mãos de Jesus e o que acontece em volta da mesa.


 

Brenda Dauta é formada em Direito e trabalha como copywriter e diretora de conteúdo. Casada com Alan Lacerda, congrega na Igreja Presbiteriana Cruzeiro do Anil em São Luís, MA.

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