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Contentamento em uma Era Consumista


Texto: Luzia Gavina | Fotografia: Cup Of Couple


Quem nunca foi ao shopping dar uma volta e fazer umas comprinhas para relaxar? Ou quem nunca em uma hora vaga abriu o aplicativo de compras, sem nada específico para comprar, só pra encher o carrinho de coisas que deseja, mas talvez nem possa comprar? Ou quem nunca saiu para resolver algo e voltou com várias sacolas com produtos que nem imaginava precisar quando saiu de casa? Rituais cotidianos, que não são errados em si, mas que podem expressar o lugar onde temos encontrado contentamento.


Como dizia Calvino: “O coração do homem é uma fábrica de ídolos”. Somos especialistas em transformar coisas boas e lícitas em ídolos. Afinal, que mal há em comprar? Isso faz parte da vida. Inclusive é aceitável que tenhamos certo prazer ao adquirir um bem, principalmente quando o conquistamos através do nosso trabalho. A questão não é sobre comprar ou não, mas como a forma que consumimos (sejam produtos, entretenimento ou qualquer outra coisa), se relaciona com o contentamento e razão da nossa vida.


O ser humano é por natureza um ser descontente.

A jornada humana está sempre relacionada a encontrar algo que traga preenchimento, completude e satisfação. Na busca por um sentido para a existência, o consumismo, pra além de uma mera prática de consumo excessivo, vem se tornando um estilo de vida possível para uma sociedade que fundamenta sua existência na busca pelo prazer ilimitado. Dessa forma, o consumismo se apresenta como uma solução viável e acessível.


Evidentemente, essa não é uma solução eficaz para satisfazer plenamente o coração humano. Dessa forma o consumismo possui uma gama de estratégias para se promover através de discursos sutis e sedutores. Ele se aproveita do nosso potencial idólatra e se instala nas mais diversas áreas da vida sem muito alarde.


Assim, o ter passa a definir o ser. A carreira profissional escolhida passa a ser determinada pela riqueza que ela me dará; o relacionamento que eu escolho ter é baseado no prazer que irei receber; o produto que eu compro (não importa a utilidade) é comprado para me preencher. E assim o mundo segue diariamente tendo uma sensação de completude, como crianças que tentam encher um buraco na areia da praia com seus baldinhos de brinquedo. Por um segundo parecem conseguir encher, mas logo em seguir;'/da a água se esvai, precisando ir buscar mais, jamais sendo suficiente.


A narrativa bíblica, diferentemente da sociedade do prazer, nos aponta para uma direção oposta, onde só ganhamos quando perdemos. É essa a verdade que deve reger de fato a vida de um vencedor (Ap. 3:21). Comprar e vender são práticas comuns que fazem parte da vida terrena, mas a forma como nos relacionamos com a cultura consumista dessa Era diz muito sobre onde está o nosso coração e sobre o que tem definido nossas práticas, escolhas e valores.


Em apocalipse encontramos a orientação de Jesus a Igreja de Laodicéia, uma Igreja rica e cheia de prosperidade. Jesus revela a mornidão dessa Igreja, sua nudez e pobreza e dá uma orientação:

Eu te aconselho que compres de mim ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; roupas brancas, para que te cubras e a vergonha da tua nudez não seja mostrada; e colírio, pra que te apliques sobre os teus olhos e enxergues” (Ap. 3:18).


Essa carta possui uma tônica escatológica para o nosso tempo. Observar essa passagem nos gera de imediato uma identificação quanto ao perigo que corremos ao nos relacionar com a cultura consumista. Ela nos aponta a possibilidade de sermos uma Igreja rica e próspera, mas que perdeu seu coração quando pautou sua existência numa perspectiva terrena, se enganando em sua autossuficiência e se tornando morna (Ap. 3:15-17).


Além de uma identificação, a carta a Igreja de Laodicéia nos enche de esperança, lembrando onde podemos encontrar verdadeiras riquezas. Muitos são os convites que tentam nos cegar e nos conduzir por um estilo de vida pautada em nós mesmos. Porém, existe outro convite sendo feito por Aquele que caminha entre os candelabros.


Jesus está batendo a porta (Ap. 3:20) nos convidando para comprar Dele o colírio capaz de curar nossa cegueira. Ele, somente Ele, nos conduzirá as verdadeiras riquezas de abundância de vida e plenitude.


Só Nele conseguiremos viver em meio a uma cultura consumista sem perecer. Ao vencedor, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como venci e me assentei com meu Pai no seu trono (Ap. 3:21).


 

Luzia Gavina é professora e pedagoga. Casada com Bruno, é mãe do Calebe e do Estevão. Luzia é líder de jovens na Comunidade do Rei em São Gonçalo, Rio de Janeiro.


 




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