Texto por: Luzia Gavina | Fotografia: Gary Barnes
Em um tempo de tantas misturas no entendimento sobre Espiritualidade, precisamos (re)pensar a maneira que temos vivido. Existem muitas armadilhas sobre este assunto que nos fazem correr o risco de cair na dicotomia que divide a vida em santo e profano, mas também na espiritualidade superficial que, sob os disfarces da contemporaneidade, nos mantém em uma jornada rasa e ilusória.
Em I Coríntios 3, o apóstolo Paulo faz referência a três tipos de pessoa: a natural, a carnal e a espiritual. São nomenclaturas que nos ajudam a entender e reconhecer fases de maturidade.
O homem natural seria aquele que ainda é alheio ao Reino de Deus, ou seja, não teve uma experiência de conversão.
O homem carnal, apesar de já ter nascido de novo, ainda é uma criança na fé (I Co 1.3) que necessita se desenvolver para deixar de se alimentar apenas com leite e poder comer comida sólida.
Já o homem espiritual é aquele que se desenvolveu, cresceu, entendendo e vivendo de forma profunda as verdades da palavra de Deus.
Quem é espiritual aprendeu a viver não mais segundo a carne, mas sob a liderança do Espírito, movido pela Palavra.
A carta para a Igreja de Corinto deixa claro que Paulo desejava que eles fossem uma comunidade formada por pessoas espirituais, porém ainda eram carnais. Tal definição é concluída por Paulo a partir dos frutos que essa igreja expressava.
“Eu, porém, irmãos, não pude falar a vocês como a pessoas espirituais, e sim como a pessoas carnais, como a crianças em Cristo. Eu lhes dei leite para beber; não pude alimentá-los com comida sólida, porque vocês ainda não podiam suportar. Nem ainda agora podem, porque vocês ainda são carnais. Porque, se há ciúmes e brigas entre vocês, será que isso não mostra que são carnais e andam segundo os padrões humanos? Quando alguém diz: "Eu sou de Paulo", e outro diz: "Eu sou de Apolo", não é evidente que vocês andam segundo padrões humanos?”. (1 Co 3:1-4)
A Igreja de Corinto vivia um tempo de muitas divisões e partidarismo. Alguns grupos toleravam a imoralidade sexual, outros eram orgulhosos, haviam divergências doutrinárias, o que gerava muita discórdia entre os irmãos. Paulo exorta uma igreja carnal que se movia segundo padrões puramente humanos (v.4).
É quase impossível não notar certa familiaridade desta realidade com a que vivemos hoje. Então, imagine se esta carta fosse endereçada à Igreja brasileira neste tempo. Que tipo de nomenclatura receberíamos?
Como o apóstolo que mais escreveu para as Igrejas no Novo Testamento definiria nosso grau de maturidade coletivo e individual?
Nossas práticas e condutas expressam o que tem sido gerado em nosso interior. Pra além de nomenclaturas e classificações, precisamos que o Senhor sonde nossos corações para que saibamos em que fase da nossa jornada cristã estamos; nos ajudando a reconhecer nossa carnalidade e nos conduzindo, em arrependimento, para um estágio mais profundo. Sem um diagnóstico sincero sobre nossa atual situação, não saberemos medicá-la e transformá-la para que assim avancemos.
Ainda no capítulo 3, Paulo reafirma o fundamento lançado sobre seus irmãos na fé, que é Cristo, sobre o qual cada um deve construir e um dia ter suas obras provadas, lembrando aos cristãos que eles são santuário de Deus (1 Co 3:11-16).
Há uma chave nessa passagem muito importante para compreendermos a maneira que devemos caminhar em nossa peregrinação nesta Terra.
Assim como Paulo desejava falar com a Igreja de Corinto como pessoas espirituais, Deus deseja falar conosco hoje da mesma forma, nos alimentando com um alimento mais consistente capaz de catalisar nosso crescimento.
Não há mais tempo para permanecer numa infância espiritual, é tempo de crescer!
O conselho para este crescimento espiritual é dado também por Paulo a outra Igreja. Em Efésios temos a receita para viver como pessoas espirituais uma vida cheia do Espírito.
“E não se embriaguem com vinho, pois isso leva à devassidão, mas deixem-se encher do Espírito, falando entre vocês com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando com o coração ao Senhor, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Sujeitem-se uns aos outros no temor de Cristo”. (Ef 5: 18-21)
“Não se embriague com vinho”
Bebemos de muitas coisas nesse tempo. Conteúdos, imagens e ações nos entorpecem e nos distraem. A orientação de Paulo para sermos cheios do Espírito começa com uma exortação: Parem com isso!
Em contrapartida recebemos uma orientação já dada pelo próprio Jesus. “Se alguém tiver sede venha a mim e beba” (Jo 7:37).
Estamos sedentos por mais de Deus, mas nos enchemos de tudo o que é ineficaz para saciar plenamente a nossa sede. Estamos bebendo água insalubre tendo dentro de nós uma fonte que jorra rios de água viva.
“...falando entre vocês com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando com o coração ao Senhor”.
Ao examinar, compartilhar e cantar as escrituras coletivamente, somos cheios do Espírito. Louvar e engrandecer o Senhor são práticas que nos levam a sermos cada vez mais cheios do Espírito. A constância destas práticas nos faz avançar e amadurecer.
“...dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Cultivar e guardar um coração grato e humilde nos torna mais cheios do Espírito. Nossa vida não é guiada pelas circunstâncias e adversidades, mas pela liderança do Espírito Santo.
“Sujeitem-se uns aos outros no temor de Cristo”.
Essa orientação vem em seguida à frase que explica a maneira como podemos nos encher do Espírito. É como se Paulo quisesse deixar claro que o ambiente coletivo de temor ao Senhor e submissão uns aos outros em amor é um lugar propício e indispensável para se viver plena e constantemente no Espírito.
Andar no espírito deve ser a normalidade da vida cristã e não uma exceção.
Que possamos através das orientações de Paulo avaliar em que estágio estamos, desejosos por avançar em uma jornada espiritual íntegra. Assim, quando nosso Senhor retornar, encontrará não mais uma bebê, mas uma noiva pronta e madura para o casamento.
Luzia Gavina é professora e pedagoga. Casada com Bruno, é mãe do Calebe e do Estevão. Luzia é líder de jovens na Comunidade do Rei em São Gonçalo, Rio de Janeiro.
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